quarta-feira, 21 de abril de 2010

MINHA RELUTÂNCIA
“Vocês sabem que existem os que, combatendo ou só participando no passado de
nossas atividades de garantia da lei e da ordem, pela omissão, por acomodação ou covardia, ou
até por adesão a postulados socialistas oportunos, hoje criticam ações que nunca tiveram
coragem de criticar, olhando nos olhos ou participando suas críticas, formalmente. Alguns até
posaram e posam de heróis, muitos escrevendo ou dando depoimentos sem brilho a título de
"escrever a História" da Revolução de 1964” – Coronel José Luiz Sávio Costa
Relutei bastante em tornar público este texto.
A insistência dos amigos para que eu mesmo escrevesse sobre minhas experiências, desde que inser
relato sumário sobre o assunto, principalmente para corrigir os fatos vergonhosamente deturpados e d
imprensa mentirosa, comprada e descaradamente revanchista (eles não queriam me dizer: “Escreve, A
guerra, enquanto está vivo...”).
Mantive silêncio durante todos esses anos, mesmo no meio militar, principalmente por ser assunto clas
secreto pelo Exército. No entanto, aqueles que tinham a obrigação de oficialmente rebater os ataques
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fizeram. Acovardaram-se. Esqueceram o principal, que a disciplina e a hierarquia não têm apenas um
impelido naturalmente a entrar nesta “nova” luta, que eu tinha deixado já ganha, há muito, “na esfera d
atribuições”.
Antes de cursar o IME (Instituto Militar de Engenharia), eu já era pára-quedista, tendo realizado todos o
o curso pioneiro de Forças Especiais, onde fui aluno-instrutor. O IME foi para mim, além de um acalen
sonho de adolescente, um “carro de fogo”, uma prova inesquecível; foram quatro anos de estudos com
elevadíssimo nível intelectual, a maioria com mestrado e doutorado no exterior, principalmente no MIT
Institute of Technologie) e na França.
Nos cursos da Escola de Pára-quedistas, fui iniciado no salto-livre, necessário para o
cumprimento de operações especiais, estratégicas. Minha especialidade e preferência, porém,
era guerra na selva. Permaneci cerca de seis anos na Divisão de Pára-quedistas, saindo para
o IME, onde passei quatro anos. Em seguida, fui servir em Mato Grosso, tendo como missão
reestruturar a extensa rede-rádio da 9ª Região Militar, inclusive a de fronteira, permanecendo
cerca de três anos em atividades, desde os postos de São Simão, Casalvasco, Fortuna e Porto
Esperidião (próximos às nascentes do Guaporé), Ilha da República, Bela Vista do Norte, até
Mundo Novo, em frente a Guaíra, Paraná. Meu ambiente era, portanto, de muita selva,
pantanal exuberante, rios Paraguai e Paraná, grandes atividades cinegéticas nas horas livres e
enquanto aguardava providências previstas no PERT do projeto. Assim é a atividade do militar.
Quantos engenheiros civis aceitariam tal missão nas condições oferecidas a um Capitão?
Em seguida, realizada a missão em Mato Grosso, em 1968 cheguei a Brasília, para o
GabMinEx/CIE/ADF.
Em novembro de 1969, Marighela foi morto em São Paulo, deixando as referências de uma
“grande área” de preparação da guerrilha rural. Onde seria esta grande área?
Minhas atividades eram na Seção de Planejamento (Mudança do Ministério para Brasília),
estabelecimento das comunicações (microondas e Rede do Alto Comando, ligando Rio de
Janeiro, Brasília e os Comandos das Regiões Militares) e participando, com o Coronel Torres,
da organização da Seção de Operações, para enfrentar a guerrilha rural.
Cumprindo o planejado, saímos em busca dos discípulos de Marighela, mas demos de cara
com os discípulos de um tal de “Barba Roja” Piñeros Losada, chefe da ala para a América
Latina do serviço secreto de Cuba, companheiros de “Daniel”, do famoso e desafortunado
MOLIPO, ou Grupo Primavera, Grupo da Ilha, de 28 terroristas que estavam sendo preparados
em Cuba. Era o desencadeamento do plano de irradiação do comunismo na América Latina,
financiado e orquestrado adivinhem por quem?
Começava a luta na área rural. E para ela já estávamos bem preparados há muito tempo.
O destemido “companheiro de armas” de Dilma Roussef, vulgo “Estela”, no POLOP, ou “Luiza”,
no COLINA, ou “Patrícia”, na VPR, ou “Wanda”, na VAR-P, nome verdadeiro José Dirceu, e de
fachada “Daniel”, ex-ALN /MOLIPO, agora no PT, era um deles, embora naquele tempo tivesse
horror de armas. Para nossa sorte, essa era a espécie de “guerreiros” que pretendiam tomar o
poder no Brasil pelas armas.
Somente tropa especializada saberá tirar proveito das revelações por mim aqui feitas.
“A disciplina militar prestante, não se aprende senhor na fantasia, sonhando, imaginando ou estudando
tratando e pelejando” .
O assunto que relato é forte, fatos reais, tendo em vista principalmente os nossos padrões e costumes
explicar, jamais; apenas me limito aos fatos.
Os aspectos táticos e estratégicos de combate na selva, sendo revelados os procedimentos adotados
são assimiláveis apenas na prática por unidades de forças especiais; são praticamente inatingíveis po
profissional, o que, justamente, faz a diferença entre elas.
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No Araguaia, mais uma vez ficou evidente que a guerra de resistência não tem regras fixas e seus prin
dogmas invariáveis e, portanto, em conseqüência, o mesmo vale para o seu combate.
As implicações psicológicas e éticas de tais fatos são aspectos difíceis de aceitar, analisar, encarar, ao
compreender ou mesmo justificar; estão, por isso, acima dos objetivos deste simples trabalho.
Só presenciei um caso de desequilíbrio psicológico na mata, em combate. Tomei conhecimento, porém
episódios semelhantes, esporádicos. Apenas quero lembrar que eles, os guerrilheiros, não estavam lá
pensem bem nisso.
Reconheço que a simples leitura deste meu pequeno texto não será de fácil compreensão para quem
no assunto “Guerrilha do Araguaia”. Outras leituras terão que ser feitas por quem se interessa pelo ass
muitos outros livros, com novos fatos e testemunhos, haverão de surgir, uma vez que poucos participa
suas colaborações.
Ser Soldado pode englobar todas as qualidades morais e intelectuais, desde o conhecimento dos regu
disciplina, do treinamento normal intramuros do Quartel, enfim, a dinâmica da vida normal na caserna,
sua disciplina hierárquica fundamental e inquebrantável, base da profissão das armas.
Combatente, é aquele que tem treinamento apropriado de combate. Será guerreiro se tiver vocação e
precípua e intensamente para combater, mesmo que a hipótese de combate real seja longínqua; se tiv
de enfrentar o inimigo e derrotá-lo, estará plenamente realizado profissionalmente.
Tudo começa, obrigatoriamente, como “troupier”, o militar de tropa, nas inúmeras atividades, algumas
burocráticas, mas passageiras, e a instrução diária no Quartel. Nossa atividade é silenciosa, porém árd
Na tropa, o militar revela exatamente o que será para o resto do seu tempo na caserna, até, e principa
ao generalato. É só analisar a vida dos grandes líderes. As que tive oportunidade de analisar de perto,
ou em unidades próximas: Marechal Rondon (Patrono da Arma de Comunicações), General Penha Bra
de Aragão, General Orlando Geisel, General Médici, General Arnaldo Bastos de Carvalho Braga, Coro
Torres, Coronel Jarbas Gonçalves Passarinho e, finalmente, todos os meus oito colegas de Turma da
ligados à luta, de fato todos de conduta irrepreensível e excelentes guerreiros.
Mesmo o leitor militar terá que “recalibrar” vários conceitos face ao que aqui será revelado, reconfigura
encarar o combate desde a sua preparação. Embora eu tenha me esforçado para evitar empregar term
impossível evitá-los todos.
Minha equipe tinha um efetivo considerado grande, nunca maior, porém, de 18 elementos, mas na ma
comigo no patrulhamento eram dez apenas que, por tradição, era denominado GC (Grupo de Combate
Tudo recaía nas maiores interrogações: como poderia ser mantida na selva uma grande equipe, sem s
continuado? Para que “inventar” novos armamentos e instrumentos? Na parte de planejamento, enqua
Operação Sucuri, todas, ou quase todas, as minhas sugestões foram aprovadas, principalmente as ref
junto às fábricas do Exército, como a de Itajubá, onde eu tinha vários colegas de turma da Aman em p
não precisava seguir os famosos trâmites legais, bastando oficializar o pedido de apoio para o projeto.
silencioso para a carabina Itajubá 22, a quem atribuo uma larga margem de responsabilidade pelos êx
Nas Diretorias envolvidas diretamente na luta, como, por exemplo, a de Comunicações (DCom), embo
podido evitar algumas incompreensões, a cooperação consciente foi alcançada, com o reconheciment
equipamento do sistema-rádio Racal (inglês), destinado aos pára-quedistas, devido à burocracia da DC
mandar buscar diretamente da fábrica, em Londres, sem passar pelos controles burocráticos (termos d
exame de material, termos de distribuição e inclusão em carga, etc.).
O problema da grande quantidade de baterias necessárias para a manutenção da escuta permanente
problema digno de nota. Tudo deu certo, no entanto. É necessário analisar o problema para compreen
vou fazer aqui.
As ações na selva começaram como operações de informações, simples buscas de informes. Ninguém
terroristas estariam dispostos a tudo, ninguém poderia imaginar a que ponto o fanatismo poderia levá-
Na realidade, em Brasília, antes de 1970, não era sentido o verdadeiro clima de guerra do combate ao
grandes cidades. Brasília, na época, era uma ilha de tranqüilidade.
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Nas primeiras missões na mata, não pude evitar a fuga dos “paulistas” que encontramos por lá. Iria eu
desconhecidos só por estarem supostamente na mata treinando guerrilha? E se fossem simples morad
diante das afirmações de Pedro Albuquerque, fugitivo da área, que ali estavam seus companheiros de
De sã consciência, jamais seria uma boa escolha de procedimento e jamais passou pela minha cabeça
Mas, ao ressurgirem em outro local da mata, eu tinha a obrigação moral de ir até eles, claro. E, assim,
sucedendo num crescente surpreendente e, para mim, inexorável, uma vez que mexi numa verdadeira
maribondos, vespeiro vermelho preparado por conhecidas “putas-velhas” do comunismo internacional.
deixar de continuar naquela luta.
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Capítulo 1 – PRIMÓRDIOS
“Que outrem possa louvar esforço alheio
Cousa é que costuma e se deseja;
Mas louvar os meus próprios, arreceio
Que louvor tão suspeito mal me esteja;
E, para dizer tudo, temo e creio
Que qualquer longo tempo curto seja;
Mas, pois o mandas, tudo se te deve;
Irei contra o que devo, e serei breve.” - Camões
A Imprensa tem sistematicamente publicado versões fantasiosas e mentirosas de alguns
combates e incidentes da guerrilha do Araguaia. São versões “por ouvir dizer”, escritas
maliciosamente por quem não tem a mínima idéia do que seja um combate, muito menos na
selva. Sem exceção, são todos eles, jornalistas de esquerda, comunistas e inocentes úteis. Os
anticomunistas e realistas desapareceram, silenciaram.
Se os poucos militares combatentes ainda vivos, participantes, se omitirem, ficará valendo a
versão dos derrotados. Deixo aqui o meu convite, verdadeiro apelo, aos reais combatentes
para que deixem o seu depoimento, suas versões dessa fase difícil, dessa verdadeira guerra.
Os primeiros mortos na luta no Araguaia foram quatro militares e um morador que tinha servido
de guia para a primeira patrulha que entrou na selva; só depois começaram as baixas dos
guerrilheiros. Isto é uma demonstração irrefutável de que os militares agiam com comedimento,
com cuidado para não haver enganos nem excessos.
Foram dadas inúmeras e demoradas oportunidades para que eles se entregassem: o local foi
descoberto em 1972 e só foi neutralizado em 1974. Com a descoberta das áreas dos três
grupos, seria muito fácil, por exemplo, empregar a Divisão de Pára-quedistas para neutralizálos
em curto prazo. Mas isto não foi feito; foi adotada uma solução humana, demorada e,
inclusive, mais arriscada para os militares. Muitas outras soluções instantâneas poderiam ter
sido adotadas.
Após terminada a Operação Sucuri, em setembro de 1973, inúmeras vezes foram lançados
panfletos e transmitidas mensagens por megafone por meio de aeronave a baixa altura,
concitando a que se entregassem, com a garantia de julgamento justo, tratamento humano e
imparcial. Não surtiu efeito; eles se decidiram pelo confronto e assim aconteceu.
No início de 1974, ainda convalescendo, cumpri várias dessas missões, embora a pressão
atmosférica na cabeça (face e ouvido), ainda me exigisse um grande esforço. Voávamos em
grandes círculos e exatamente sobre a área dos acampamentos dos guerrilheiros, lançando os
panfletos, numa demonstração clara de que sabíamos exatamente onde eles estavam.
Dizem eles, mesmo assim, inconformados com a derrota, que esta demora de eliminação do
foco, foi por incompetência do EB. A despeito da anistia e de mais de trinta anos já terem se
passado, mantêm o mesmo ódio inicial contra o Exército particularmente e, agora, ainda
buscam indenizações.
Quando os militares chegavam na área, eles se escondiam em refúgios muito bem planejados
e preparados, verdadeiras “tocas de onça”, à beira de um córrego de águas cristalinas, com
muito conforto, ficavam dormindo. Só saiam quando não havia mais perigo e se vingavam da
população que teve contato com os militares. Assim, era realmente muito difícil achá-los
naquele verdadeiro palheiro; a tática deveria ser outra, claro.
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Hoje tentam tornar crível uma série de mentiras, que sugerem aos moradores da área, com
interesses pecuniários, que repetem. Mas contra fatos não há argumentos. O PC do B tem por
emblema a foice e o martelo, além do próprio nome revelador.
Todos os componentes do grupo militar da guerrilha, encabeçados por Zé Carlos (André
Grabois), foram formados em terrorismo nos países comunistas. E, mesmo assim, querem
convencer que lutavam contra a ditadura.
Já estavam em treinamento muito antes de 64, logicamente para tomar o poder, fosse qual
fosse o regime. Em 1952, Marighela estava na Academia Militar de Pequim, aprendendo toda
sorte de maldade para aplicar contra seu próprio povo. Em 1935, já tinham tentado comunizar
o país, assassinando traiçoeiramente inúmeros militares enquanto dormiam e um grande
número de civis contrários ao movimento. No início de 1964, André Grabois, do PC do B, foi
fazer curso de terrorismo em Cuba, juntamente com outros militantes que comporiam o grupo
militar da guerrilha. Era essa democracia de Cuba que gostariam de impor aos brasileiros?
Meu grupo de combate sempre operou com cerca de 10 militares. Suas ações foram sempre
revestidas de muita eficiência. Considerando cerca de uma dúzia de ações, com as
substituições a cada ação, há no mínimo 70 militares participantes em condições de escrever
suas “memórias”, sem incluir os que já tenham falecido. Como eu era o mais velho dentre
todos, considerando 20% de falecimentos, poderá haver cerca de 50 futuros escritores,
“testemunhas oculares da história”... E, tenho absoluta certeza, nenhum se passou para o outro
lado! Nenhum virou bajulador de comuna.
Embora eu tenha passado mais de trinta anos afastado de qualquer alusão ao assunto
guerrilha, as lembranças são inevitáveis. No meu caso, estas lembranças eram muito
espaçadas no tempo. No entanto, o revanchismo fez com que eu me convencesse de que
estava na hora de começar a falar. Diante de tanta mentira, foi impossível ficar calado.
As operações de reconhecimento e busca de informes ao longo da Belém-Brasília, começaram
logo após a morte de Marighela, em 1969, como já dissemos.
A crescente atividade dos terroristas que começaram com o violento atentado no Aeroporto dos
Guararapes, no Recife, levaram à reação natural, progressiva. Afinal de contas, combate é a
nossa especialidade.
Não havia, ainda, no País, órgãos de segurança especializados no combate ao terror.
Aí é que justamente começaram os “anos de chumbo” batizados e iniciados por eles próprios.
Pena que não tenham sido anos de chumbo grosso, como deveria ter sido. O que é que eles
queriam?
A capital pernambucana foi a escolhida para ser o cenário inicial de uma nova forma de luta - o
terrorismo - que, por muitos anos, viria a ensangüentar e a enlutar a sociedade brasileira.
Os recifenses e as autoridades já estavam reunidos no Parque 13 de Maio, ponto central da
cidade, aguardando o início das comemorações pelo transcurso do segundo ano da
Revolução.
Nesse momento, exatamente às 0847h, ocorria violenta explosão no 6º andar do edifício dos
Correios e Telégrafos, onde funcionavam os escritórios regionais do SNI e da Agência
Nacional.
Ao mesmo tempo, uma segunda explosão atingia a residência do Comandante do IV Exército.
Mais tarde, seria encontrada uma terceira bomba, falhada, num vaso de flores da Câmara
Municipal de Recife, onde havia sido realizada uma sessão solene em comemoração à
Revolução Democrática.
Três bombas montadas para, num só momento, atingir personalidades e entidades
representativas do governo brasileiro, além dos inúmeros inocentes participantes. Iniciava-se,
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assim, a guerra suja, ou os “anos de chumbo”, como queiram interpretar.
Entretanto, a bomba falhada no legislativo municipal deveria estar incomodando os terroristas e
estar sendo vista como um parcial fracasso de execução.
Assim é que, em 20 de Maio de 1966, 50 dias após esse ensaio geral, foram lançadas outras
três bombas - dois "coquetéis molotov" e um petardo de dinamite, contra os portões da
Assembléia Legislativa de Pernambuco.
A Nação, estarrecida, vislumbrava tempos difíceis que estavam por vir.
O dia 25 de Julho de 1966 começa com uma nova (terceira) série de três bombas, com as
mesmas características das anteriores, sacudindo Recife. Uma, na sede da União de
Estudantes de Pernambuco, ferindo, com escoriações e queimaduras no rosto e nas mãos, o
senhor José Leite, de 72 anos, vítima inocente que passava pelo local. Outra, nos escritórios
de uma repartição americana, causando, apenas, danos materiais. A terceira bomba,
entretanto, acarretando vítimas fatais, passou a ser o marco balizador do início da luta contra o
terrorismo no Brasil.
Na manhã desse dia de 25 de julho de 1966, o Marechal Costa e Silva, então candidato à
Presidência da República, era esperado por cerca de um grupo avaliado em 500 pessoas que
lotavam o Aeroporto Internacional dos Guararapes e adjacências, jardins, praças e acessos.
Às 0830h, poucos minutos antes da previsão de chegada da comitiva do Marechal, o serviço
de som anunciou que, em virtude de pane no avião, ela estava deslocando-se por via terrestre
de João Pessoa até Recife e iria, diretamente, para o prédio da SUDENE.
Esse comunicado provocou o início da retirada do público.
O guarda-civil Sebastião Tomaz de Aquino, o "Paraíba", outrora popular jogador de futebol do
Santa Cruz, percebeu uma maleta escura abandonada junto à banca de uma livraria, localizada
no saguão do aeroporto. Julgando que alguém a havia esquecido, pegou-a para entregá-la no
balcão do DAC.
Aí, ocorreu uma forte explosão.
O som ampliado pelo recinto fechado, a fumaça, os estragos produzidos e os gemidos dos
feridos provocaram o pânico e a correria do público. Passados os primeiros momentos de
pavor, o ato terrorista mostrou um trágico saldo de 17 vítimas.
Morreram instantaneamente o jornalista e secretário do governo de Pernambuco Edson Regis
de Carvalho, casado e pai de cinco filhos, com um rombo no abdômen, e o vice-almirante
Nelson Gomes Fernandes, com o crânio esfacelado, deixando viúva e dois filhos menores.
O guarda-civil "Paraíba", ferido gravemente no rosto, nas mão e nas pernas, teve uma perna
amputada.
O então Tenente-Coronel do Exército, Sylvio Ferreira da Silva, sofreu fratura exposta do ombro
esquerdo e amputação traumática de quatro dedos da mão esquerda.
Ficaram, ainda, feridos os advogados Haroldo Collares da Cunha Barreto e Antonio Pedro
Morais da Cunha, os funcionários públicos Fernando Ferreira Raposo e Ivancir de Castro, os
estudantes José Oliveira Silvestre, Amaro Duarte Dias e Laerte Lafaiete, a professora Anita
Ferreira de Carvalho, a comerciária Idalina Maia, o guarda-civil José Severino Pessoa Barreto,
o Deputado Federal Luiz de Magalhães Melo e Eunice Gomes de Barros e seu filho, Roberto
Gomes de Barros, de apenas seis anos de idade.
O acaso, transferindo o local de chegada do futuro Presidente, impediu que a tragédia fosse
maior.
O terrorismo indiscriminado, atingindo pessoas inocentes e, até, mulheres e crianças, mostrou
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a frieza e o fanatismo de seus executores. Naquela época, no Recife, apenas uma organização
subversiva, o Partido Comunista Revolucionário (PCR), defendia a luta armada como forma de
tomada do poder. Dois comunistas foram acusados de envolvimento no ato terrorista: Edinaldo
Miranda de Oliveira, militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) e que,
em 1986, era professor de Engenharia Elétrica em Recife, e Ricardo Zaratini Filho, então
militante do PCR e que atualmente exerce a função de assessor parlamentar da liderança do
PDT na Câmara Federal.
Em 18 de maio de 1999, em entrevista ao jornal "O Estado de São Paulo, o Comandante do
Exército, Gen Ex Gleuber Vieira declarou, a respeito da reabertura do caso Riocentro: "Nós
nunca pensamos em pedir reabertura de inquérito envolvendo personalidades da vida nacional
de hoje, indivíduos que no passado estiveram envolvidos em assaltos a bancos, seqüestros,
assassinatos e em atos de terrorismo. Nós não cogitamos pedir a reabertura do inquérito nem
mesmo quando uma dessas personalidades declarou que sabia quem tinha posto uma bomba
no aeroporto do Recife."
Um ano depois do atentado, em 25 Jul 67, foi inaugurada no Aeroporto uma placa de bronze
com os seguintes dizeres:
"HOMENAGEM DA CIDADE DO RECIFE AOS QUE TOMBARAM NESTE AEROPORTO DOS
GUARARAPES, NO DIA 25 DE JULHO DE 1966, VITIMADOS PELA INSENSATEZ DOS
SEUS SEMELHANTES.
- ALMIRANTE NELSON FERNANDES
- JORNALISTA EDSON REGIS
GLORIFICADOS PELO SACRIFÍCIO, SEUS NOMES SERÃO SEMPRE LEMBRADOS
RECORDANDO AOS PÓSTEROS O VIOLENTO E TRÁGICO ATENTADO TERRORISTA,
PRATICADO À SORRELFA PELOS INIMIGOS DA PÁTRIA."
Hoje, os terroristas daquela época, arvorando-se em "heróis" libertários, afirmam que o que
fizeram foi uma reação à "violência" do Governo brasileiro. Intencionalmente, procuram
deturpar a História e levar ao esquecimento as vítimas que causaram em sua sanha fratricida,
dentre elas, as de 1966.
Passaram-se muitos anos.
Mas as bombas do Recife e o atentado de Guararapes jamais serão esquecidos.
E as ações nefastas continuaram. O assassinato do Major Toja Martinez, o massacre do
Tenente Alberto Mendes Júnior, os assassinatos cometidos pelo ex-Capitão Lamarca,
desertor, com o roubo de grande quantidade de armamento pesado e respectiva munição,
assaltos a bancos, seqüestro de embaixadores para a troca por terroristas presos, assassinato
de militares de países amigos e de brasileiros, explosão no QG II Ex, com o estraçalhamento
do Soldado Mário Cozel, mero sentinela da hora, inocente, pois estava a fim de tirar o
certificado de reservista; ida de grande quantidade de terroristas para cursos em Cuba, etc.
Em 1969, começavam a ser detetadas as investidas na área rural, já que o terrorismo estava
sendo derrotado nas cidades.
“Foi como atirar no fantasma de Marighela e acertar no Molipo” – comentário, na época, do Cid,
bravo guerreiro de minha equipe.
Dentre as várias operações contra os terroristas (Molipo-Grupo da Ilha -Grupo Primavera),
antes de descoberta a área da guerrilha do Araguaia, ao longo da rodovia Belém-Brasília,
descrevo as que comandei.
Operação em que tombou o terrorista Jeová Assis Gomes, que reagiu à voz de prisão no
campo de futebol da Rodobras em Guará I (ou Guaraí), lotado, durante uma partida de futebol
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do time local com o de Araguaína (era o flaflu de lá), com prisão de outro terrorista (Boanerges
de Souza Massa). Época provável (não lembro bem): jan/1972 (?).
Um tiroteio num campo de futebol lotado, apenas dois atingidos, o Jeová e um militar (alguns
só arranhados, de raspão e por estilhaços de ricochete).
Nunca poderíamos imaginar que Jeová reagisse, sacando uma arma de fogo num local cheio
de gente; seria mais lógico ele aproveitar a confusão para fugir, como o resto do bando fez.
Sacou a arma, feriu um militar e foi atingido mortalmente.
Eu levei apenas um violento safanão do Jeová, que tinha 1,90 m e uns cem quilos de peso
(achei que podia imobilizá-lo, com a ajuda do JPeter), enquanto outro agente imobilizava o
outro terrorista. Desvencilhando-se com um forte safanão, ao procurar sacar a arma, Jeová foi
atingido por um dos elementos da equipe. O outro não reagiu, foi preso.
Há reportagem com foto da época (publicada dois ou três dias depois do incidente), num
grande jornal (Globo, Correio Braziliense?), aparecendo o corpo de Jeová no chão, em primeiro
plano, com Boanerges acocorado do lado, tentando escutar o que Jeová queria falar.
O Arno Preis foi eliminado na mesma área (ao longo da Belém-Brasília, em Paraíso, uma vila
na época). Conseguiu matar, à traição, dois militares, um morreu na hora; outro, dias depois. A
população ficou revoltada e ajudou na caçada. Acuado num matagal às margens da rodovia,
não se entregou e foi alvejado quando corria. Foram utilizados faróis de caminhões postados
convenientemente na estrada para poder vigiá-lo de modo a evitar a fuga. Foi alvejado de
madrugada, quando corria, na tentativa de fuga.
Outra missão, numa fazenda na PA-70 (que liga Imperatriz a Marabá), quase chegando à
margem do Tocantins em frente à Marabá, para prender dois elementos do Molipo, cujos
nomes não lembro. Quando chegamos lá, o delegado Fleury já tinha cumprido a missão e
levado os dois bandidos para São Paulo, de avião. Nunca compreendi esta missão; perdemos
tempo inexplicavelmente. Por que duas equipes para cumprir uma mesma missão?
Ao todo, foram “dedurados” vinte e três componentes do “grupo da ilha”, ao retornarem de
Cuba, a maioria eliminada (presa ou morta) devido à traição de um deles. Os que não reagiram
foram presos e estão por aí tranqüilamente. Quem terá sido o tal traidor, o informante? Muitos
dos sobreviventes fizeram declarações de arrepiar, principalmente o Jeová, antes de morrer, e
o Boanerges, que na época usava carteira de trabalho como Antonio Martins, enfermeiro (na
realidade era médico), até hoje não apareceu para desmascarar o traidor.
Após o incidente no campo de futebol de Guaraí com o Jeová, conseguimos um guia que sabia
onde estavam os demais do bando e partimos em sua perseguição. Otávio Ângelo, Sérgio
Capozi, Jane Vanini e um outro elemento, escaparam do cerco porque eu não quis colocar em
risco a vida do filho do guia, menor, que estava inocentemente com os bandidos. Como eles
não se entregavam, iria haver tiroteio na certa. Estavam com o Jeová pouco antes de o
encontrarmos no campo de futebol. O bando planejava explodir todos os postos de
combustíveis ao longo da estrada, até Belém, levando o caos à extensa região devido à
interrupção do abastecimento, que iria repercutir em toda a região Norte, até Manaus.
A volumosa documentação da série de ações anti-Molipo não deve ter sido destruída, por não
serem referentes ao Araguaia. Meu relatório de final de missão deve estar lá arquivado, com o
nome do suposto traidor declarado por Jeová. Além disso, os arquivos dos outros ministérios
estão disponíveis, para o caso de se desejar realmente saber o nome do traidor. Os serviços
de informações eram integrados, principalmente o do Ministério das Relações Exteriores, onde
está a chave do problema.
O Boanerges apenas auxiliava o Jeová nas declarações, pois ele falava com muita dificuldade.
Coisas importantes acontecem, ou deixam de acontecer, até hoje em função desse assunto...
Qual será o motivo por que os arquivos das Forças Armadas não são abertos, sem restrições
nem pré-exame dos asseclas da quadrilha, pelo menos aos historiadores, como informação ou
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reconstituição histórica? E, o mais importante, por que os arquivos do Ministério das Relações
Exteriores não são nem cogitados?
Colocaram a culpa no Cabo Anselmo, mas ele não tinha cacife, nível de conhecimento e de
influência suficientes para dedurar com tanta precisão os embarques de volta... e outros
detalhes importantes que muitos sabem, da mesma forma que o Jeová sabia ou desconfiava.
Houve o caso de um deles que foi notável; o sujeito, ao saber que ia voltar para o Brasil,
escreveu uma minúscula “cola” com todos os endereços dos contatos e a enrolou junto com o
filme de sua máquina fotográfica. Ao ser preso em Salvador, o Delegado foi diretamente na
máquina, desenrolou o filme e retirou a cola. Nem ao menos despistou, foi direto, sem querer
saber de mais nada. Esse indivíduo foi preso, cumpriu pena e contou o ocorrido para todos os
companheiros. Inúmeros outros casos flagrantes, semelhantes, aconteceram depois. Na
verdade, sem sofismas, um traidor de alto gabarito dedurou os próprios companheiros. Como?
Muito fácil. Um diplomata, ou similar, comunicava, por intermédio do serviço de informações do
Ministério das Relações Exteriores, todos os lances a partir de Cuba. Um Coronel do CIE/Rio (
que ainda está vivo), era o oficial de ligação com o Itamaraty. Logicamente, o Oficial de
Ligação do CIE/Rio tinha um Major de auxiliar e substituto eventual (que, igualmente, ainda
está vivo). O Coronel está muito doente e não deve durar muito.
O caso do Cabo Anselmo é muito semelhante ao de Manoel Jover Teles...
Depois do lamentável e violento incidente em que prendemos o Jeová e o Boanerges, no
campo de futebol em Guaraí, fomos até a pensão onde eles (no total de 6) estavam
hospedados e revistamos as bagagens. Munição de revólver e bombas de fabricação caseira,
empregando latas vazias de óleo Singer, cheias de pólvora negra, enroladas com arame de
aço (para estilhaçar) e cordão de pólvora (estopim).
Jeová, ferido gravemente e o Boanerges ileso, uma vez que não ofereceu resistência, foram
transportados para a farmácia e medicados, ficando o Jeová deitado num lençol estendido no
chão. O nosso elemento ferido foi mandado, na segunda viatura, para o Quartel da PM em
Araguaína (tiro no tórax).
O Jeová parecia morto. Deixamos dois soldados PM de guarda e iniciamos a perseguição aos
demais elementos do bando, tendo um guia local que nos conduziria à fazenda onde sabia que
eles estavam. Ao chegarmos próximo, após uma longa caminhada na mata, no planejamento
da ação de ataque, o guia informou que o filho, rapaz de 18 anos, estava com eles. Decidi
aliviar a missão, pois eles iriam usar, na certa, o garoto como escudo, como era normal no
procedimento deles e eu estava com vários elementos novos na equipe, que poderiam não ter
a calma suficiente. Fizemos o cerco, com ordem expressa de não atirar, a não ser com risco de
vida, defesa própria. Só intimidar. Se fraquejassem, apenas os antigos da equipe poderiam
agir. Como eu já previa, eles fugiram, levando o rapaz de refém, como escudo, com uma arma
na cabeça, sem chance para nós. Deixaram os “trouxas” para trás...
Frustração grande nossa; deixamos de prendê-los, lamentavelmente. Eram quatro, embora a
ordem do CIE se referisse a apenas três, além de Jeová e Boanerges: Otávio Ângelo, Jane
Vanini , Sérgio Capozi (o quarto elemento, não foi identificado, talvez Rui Berbert).
Retornamos a Guaraí à tardinha, quando o Jeová, para minha surpresa, pois achávamos que
estava morto, pediu para falar com o chefe da equipe. O Boanerges ainda estava muito
nervoso, mas auxiliou e falou, mais interpretando do que falando o que o Jeová balbuciava com
dificuldade. O Jeová morreu em seguida, à noite, e o passamos juntamente com sua longa
ficha criminal, ao prefeito, que mandou sepultá-lo no cemitério local. O Jeová falou sobre terem
sido dedurados, revelando o nome do traidor. Escutamos pacientemente e tudo foi anotado.
Não dei grande valor ao que ele disse, mas depois de analisarmos todos os fatos, nos
impressionaram a exatidão e o conteúdo das ordens que recebemos em Brasília: eram de uma
precisão fantástica. Eles iriam se reunir em Guaraí entre tais dias, nomes de todos eles, fotos,
27
fichas, etc. Trabalho digno de Scotland Yard... Fizemos um relatório pormenorizado da
operação ao CIE/ADF, na volta. Em seguida, de Guaraí prosseguimos para Araguaína,
preocupados com a saúde do elemento de nossa equipe ferido. Como sempre, o nosso
procedimento era, como eu dizia “feito cantiga de grilo”, só parávamos após cumprida a
missão. Muitos queriam comer alguma coisa, mas “comiam mesmo era poeira”...
Em Araguaína, entregamos o preso ao Cmt do Btl da PM e passamos a relatar resumidamente
as operações ao Capitão Chefe da 2ª Seção, Informações, após visita ao nosso elemento
ferido, fora de perigo, na Enfermaria. Nos hospedamos numa pensão e iniciamos incursões de
reconhecimento pela cidade. O resto do bando poderia estar por lá. No dia seguinte, na hora
do almoço, o Cap S2 PM nos procurou, informando que tinha um casal suspeito num
determinado hotel. Montamos uma paquera e suspeitei que a moça era a Jane Vanini, pois as
características coincidiam com a foto: bonita, cabelos pretos, longos e lisos, olhos escuros,
altura, etc; o marido tinha viajado para Marabá. Com a participação do gerente do hotel e na
presença do Cap PM, revistamos o quarto da moça, enquanto ela se explicava ao gerente na
portaria do hotel (estavam devendo várias semanas ao hotel). Encontramos no quarto uma foto
de guerrilheiros cubanos (pela placa do carro que aparecia), armados de fuzis e revólveres,
posando de revolucionários. Mandamos vir a moça, que ficou revoltada com a invasão e
explicou que era uma foto recebida de uma amiga. Aceitamos o que ela disse e a levamos à
presença do marido em Marabá, mas antes passamos numa serraria onde ela informou que ele
trabalhava na administração. Revistei a mala dele, tendo encontrado uma intimação judicial por
abandono da família (mulher e filha). Guardei-a no bornal e prosseguimos para Marabá. A
moça chorou o tempo todo da viagem, umas três horas. Em Marabá, convidei o marido dela,
que localizamos facilmente num bar, para nos acompanhar e fomos para a delegacia policial.
Depois de interrogá-lo, concluí que o casal nada tinha com os bandidos. Mostrei, então, a
intimação judicial e eles abriram em choro convulsivo. Estavam desesperados. Pensaram que
iriam ser presos e recambiados para SP à presença do Juiz. Deixei-os a sós por meia-hora e
liberei-os. Era pista fria, gelada.
Cerca de um ano depois, voltei a encontrar esse casal em Xambioá, num barco que ia para a
Fazenda Santa Isabel, subindo o rio Araguaia. Os moradores denunciaram que estava cheio de
armas, com muitos “paulistas”. Nada de suspeito foi encontrado e eles foram liberados.
Muito trabalho desenvolvido no período, numa extensão enorme do nosso território.
As missões ao longo da Belém-Brasília eram para descobrir indícios da “grande área” de treinamento d
demos de cara com o “grupo da ilha”, livrando a área de muitos atentados. Este fato nos atrasou dema
das áreas que tínhamos planejado: Tocantinópolis/Porto Franco, Xambioá e Marabá. Mas, como estam
providencial. O Molipo foi neutralizado nas cidades e no campo e o grande herói foi o “dedo-duro”...
28
Capítulo 2 - DESCOBERTA DA GRANDE ÁREA
“Nós somos da Pátria a guarda. Fiéis soldados, por ela amados.
Nas cores de nossa farda, rebrilha a glória, fulge a vitória”
Pedro Albuquerque Neto (“Jesuíno”), preso pela Polícia Federal em Fortaleza, CE, por
vagabundagem (sem documentos), declarou ter fugido de um campo de treinamento de
guerrilha localizado no sudeste do Pará. A verdade, declarou ele, é que sua mulher, Tereza
Cristina (Ana), engravidou e eles receberam ordem para fazer o aborto. Inconformada, ela
resolveu desertar e os dois realizaram a fuga juntos. Tereza subornou um morador com
algumas jóias e conseguiram sair da selva, indo para Fortaleza, onde foram presos pela
Polícia. Prestaram declaração e foram recolhidos ao xadrez. Arrependido de ter falado e
principalmente por saber que seria justiçado pelos companheiros (como declarou
posteriormente), tentou o suicídio, cortando os pulsos com uma lâmina de barbear. Foi salvo
pela sentinela e levado para o hospital da Guarnição do Exército.
Por sorte, o depoimento do Pedro Albuquerque foi remetido diretamente ao CIE/ADF, Brasília,
senão teria sido engavetado no Rio de Janeiro (trâmites legais), onde o assunto guerrilha rural
era motivo de chacota. Caiu nas mãos do General Bandeira. Foi providenciado o transporte
imediato do preso para Brasília, onde foi novamente interrogado, quando acrescentou outros
dados (detalhes sobre o local, efetivo, armamento, nomes dos componentes e outros).
Perguntado qual o efetivo em pessoal lá existente, revelou que eram muitos, da ordem de
trinta, num só destacamento.
Sobre a localização da área, informou que indo de Xambioá, subindo o rio Araguaia até a
picada de Pará da Lama, indo até o último morador, o campo de treinamento ficava além, a
menos de seis horas de caminhada por uma picada.
Foi montada a operação de busca de informações, chefiada pelo Coronel Sérgio Carlos Torres,
Chefe da Seção de Operações do CIE/ADF e eu no comando da equipe de busca, efetivo de
dez homens da Brigada de Infantaria. Fomos de C-47 da FAB até Araguaína e de caminhão da
Rodobras até Xambioá. Nessa viagem, desde Brasília, o Coronel Raul Augusto Borges, Chefe
da 2ª Seção/8ª RM, nos acompanhou, tendo permanecido alguns dias em Xambioá.
A grande área presumida foi bloqueada por tropa da 8ª RM nos principais pontos da Trans-
Amazônica (Marabá) e Belém-Brasília, Araguaína e Imperatriz.
A partir de Xambioá, subindo o rio Araguaia até Pará da Lama, antes da primeira corredeira,
um dia inteiro de marcha firme pela trilha no sentido do Xingu. Partimos ainda escuro, dia 11 de
abril de 1972. Já noite, chegamos até a casa do último morador, Sr. Antônio Pereira. Fomos
bem recebidos pela humilde família, comemos frango com arroz, conversamos um pouco e
fomos pouco a pouco saindo para armar a rede e dormir.
Na madrugada seguinte foi iniciada a marcha até os “paulistas”, indo o filho mais novo do
Antonio Pereira como guia, fato que não pude evitar devido à insistência do Antonio Pereira.
Cerca do meio-dia, são avistados dois homens sem camisa sentados em tocos, no pátio de
uma grande palhoça, e uma velha, conversando, descansando para o almoço.
Os cachorros da casa começaram a latir e iniciamos a corrida para onde eles estavam.
Conseguiram fugir para a mata, pois havia sido preparado um obstáculo entre a picada e as
casas: eles aproveitaram um leito de rio seco, cheio de troncos que tornaram pontiagudos, a
guisa de abatises, retardando a nossa aproximação. Quando chegamos na casa, os
comunistas tinham fugido, deixando o almoço no fogo, quase pronto, uma panela de frango,
outra de arroz e muita farofa. Dividida pelos do nosso grupo, não deu para matar a fome, mas
foi muito bom.
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Foi encontrada uma grande quantidade de documentos e manuais de treinamento militar, livros
de doutrinação comunista, grande quantidade de uniformes, mochilas de lona reforçadas e
costuradas com linha grossa, máquina de costura grande, industrial, armamento e munição,
oficina de rádio bem aparelhada, com os instrumentos básicos para transmissão e recepção
(geradores de sinais na freqüência de HF e VHF, medidores, etc.), ferro de soldar, grande
quantidade de instrumentos cirúrgicos de alta qualidade (tudo inox), grande estoque de
remédios os mais diversos, grande quantidade de bússolas portáteis ainda nas caixas, facões
e facas, grande estoque de sacas de arroz em casca, sacas de feijão, sacas de milho
debulhado, grandes plantações de macaxeira, jerimum, melancia, maracujá, melão, laranjas,
limão, criação de galinha em cercados rústicos de paus, porcos e animais silvestres
aprisionados em chiqueiros, etc. Procuramos a casa do gerador de energia e não encontramos.
Estava, assim, a 12/04/1972, descoberta a “grande área” de treinamento de guerrilha citada por
Marighela.
Estávamos satisfeitos; afinal, após um grande esforço, tínhamos cumprido com pleno êxito a
missão recebida. O meu único desgosto foi que conseguiram fugir nas nossas barbas. Sem
dúvida alguma, os pegaríamos depois.
Destruímos tudo depois de separar amostras de documentos e algumas provas numa mala.
Ateamos fogo nas casas e galpões e destruímos o estoque de frutas num belo tiroteio.
Aguardamos o fogo baixar e fomos para a picada. Aí, demos por falta da tal mala com as
provas. Tinha sido queimada. Não fizemos prisioneiros e nem conseguimos as provas que
denunciassem a presença de guerrilheiros na área.
A esse respeito, o Cid declarou:
“Estávamos eufóricos. Comprovamos a existência da famosa Grande Área anunciada por
Marighela, que estaria sendo preparada desde 1962. A adrenalina e a euforia nos impediam de
pegarmos no sono. Todos nós estávamos conscientes de que o que tínhamos descoberto era
algo muito grande e muito organizado. Mas, a grande caçada mesmo, só começaria meses
depois”.
A equipe retornou a Xambioá, tendo sido o relatório transmitido para o CIE/ADF por fonia via
São Paulo pela estação de rádio de uma serraria em São Geraldo.
No dia seguinte bem cedo, tomei café e fui para a margem do rio onde fiquei admirando a
paisagem. O Araguaia é o rio mais bonito da região, talvez só suplantado pelo Tapajós.
O cabo Marra, da PM do Pará em São Geraldo, em frente a Xambioá, lado do Pará, vindo de
canoa em companhia de um morador, Zé Caboco, apresentou-se a mim informando que o
morador se prontificava a nos levar até a casa de Dina, que era sua vizinha. Alguns moradores
locais, curiosos, se aproximaram e um deles, piloto de avião monomotor, Pedro Careca,
informou que poderia levar nos levar até o castanhal da Viúva, cujo capataz, Sr. Victor, nos
indicaria o caminho.
Fui falar ao Coronel Torres na pensão e ele me recomendou não ir sozinho. Fui ao
“alojamento” (um quarto grande da pensão com várias camas) e não encontrei o Cid e, como
não havia tempo a perder, escalei o João Pedro. Quando íamos saindo para a pista de pouso,
aparece o Cid, que fica inconformado. Então, combinei com o Pedro Careca levar os 4 sem
bagagem (o avião cabia 3 mais a bagagem num compartimento incômodo atrás do banco
traseiro).
Quando chegamos lá, dia 17/04/1972, equipe de 4 homens mais o Zé Caboco, o grupo de Dina
já estava preparando a fuga, reunidos numa das casas, avisados que foram pelos três
elementos que fugiram anteriormente à nossa aproximação. Estávamos com muito pouca
munição, apenas as das armas e alguns poucos cartuchos nos bolsos. Eles eram cerca de
dezoito pessoas do grupamento C, o mais ao sul da área, sendo 4 mulheres, conforme
informação do morador da casa onde paramos. Contada a munição disponível, decidi: “Eles
30
são 18, menos 4 mulheres, acho que dá para enfrentá-los”. O morador retrucou: “Doutor, as
mulheres são piores que os homens”. E contou alguns episódios que assistiu, em que as
mulheres fustigavam os homens, chamando-os de frouxos e outras coisas mais. Fiquei no
dilema, mas logo decidi voltar para pegar reforço. Apagamos os nossos vestígios e voltamos.
Em Xambioá, pegamos o helicóptero de uma mineradora e voltamos no dia seguinte para a
área, com bastante munição. Éramos ao todo 6 homens, carga máxima do helicóptero.
O piloto não queria baixar. Aproveitando uma tentativa que fez, baixando até o limite que
considerou seguro, joguei um cunhete de munição e saltei atrás, capinando com o facão os
arbustos que ele dissera que estavam atrapalhando o pouso.
O cabo Marra e três soldados da PM se juntaram à nossa equipe; tinham marchado a noite
toda até lá.
Os fugitivos estavam muito carregados, demonstrado pelas pegadas profundas na lama.
Iniciamos a perseguição através da mata, seguindo-lhes facilmente por cima das pegadas. Não
havia dúvida, iríamos pegá-los logo mais. Devia ser meio-dia, mata fechada, continuávamos
nos adiantando e chegávamos a ver os “olheiros” de longe, fugindo para informar aos demais
do grupo que estávamos nos aproximando. Foi quando sentimos a aproximação de alguém
vindo por uma trilha que estávamos ultrapassando. Um indivíduo de mochila às costas, chapéu
de vaqueiro, revólver 38 e facão na cintura, marchando pela trilha. Estávamos escondidos no
mato e ele ia passando quase marchando. “Pega esse cara aí!”, gritei. O nosso elemento mais
próximo, o Cid, correu e o pegou, passando-lhe a algema de plástico. O cara declarou chamarse
Geraldo e que era morador antigo da região. Foi detido como suspeito, desarmado e
deixado algemado com o cabo Marra e soldados PM enquanto reiniciávamos a perseguição.
Pressentindo o avanço firme da nossa equipe, os fugitivos desviaram a rota e esconderam
quase toda a pesada carga que transportavam, passando a progredir mais rápido, bons
conhecedores que eram da área. Encontramos facilmente esta carga escondida e a destruímos
à facão, quando escutamos três tiros de fuzil vindos de onde tínhamos deixado o Cabo Marra
com o Geraldo. O Zé Caboco me disse: “Agora ficou difícil pegá-los. Eles estão indo para a
Gameleira”. Como já estivesse escurecendo e chovendo torrencialmente, dificultando a
perseguição, mascarando as pegadas, resolvi voltar. Iríamos encontrá-los mais adiante, mais
uma vez, vaticinei com muita contrariedade. Era o segundo “fracasso”, tendo que deixá-los
escapar nas nossas barbas... Além disso, era muita falta de sorte, prender um suspeito em
plena selva e logo em seguida soldados inexperientes matá-lo, pensei; eu estava realmente
preocupado, pois aquele suspeito poderia informar muita coisa.
O Geraldo, mesmo algemado e com uma pesada mochila nas costas, tinha disparado em desabalada
tentando fugir, quando foram dados três tiros de advertência. Foi novamente preso e ficou amarrado n
chegada, estava visivelmente apavorado. Procuramos abrigo num mocambo de palha e o Geraldo tent
fluentemente que era morador da área e tinha tentado fugir porque estava assustado com tanta gente
Nada tendo sido achado de anormal em sua mochila, já estava para ser liberado. Resolvi, porém, conv
Geraldo, fazer pessoalmente uma nova vistoria na mochila. Alguma coisa não estava muito clara na hi
era muito loquaz, repetindo com sofreguidão os mesmos argumentos, demonstrando ansiedade acima
treinado o álibi, naturalmente e, naquela situação, não era capaz de disfarçar. Foi a conta. Achei um tu
pastilhas de remédio, contendo linhas finas de pesca e anzóis diminutos, típico material de sobrevivên
alguns detalhes ao Geraldo, notei que ele estava pálido e assustado. Retirado todo o material de pesc
no fundo um papel pautado de caderneta. Era a mensagem do B para o C, em linguajar militar. Mensa
lápis, de Osvaldão, comandante do grupamento B da Gameleira para o Antônio da Dina, comandante
“C - Aqui tudo bem. Exército atuando na área com efetivo de 1 Cia - B”
Geraldo, perante tamanha evidência, desmoronou, não teve alternativa e começou a falar, responder à
lhe eram feitas, ansioso para demonstrar que agora estava falando a verdade. Os elementos de minha
31
realmente indignados. Muitas de suas informações batiam com as dadas por Pedro Albuquerque, que
fora preso. No verso de um papel de um pacote de cigarro, o Cid anotava tudo com um toco de lápis s
de onde. O João Pedro do lado, tentando segurar a verborragia do Geraldo, agora declarado José Gen
Ceará e membro do grupamento B da Gameleira, cujo comandante era o Osvaldão, cujo chefão era M
que se reportava a João Amazonas, e lá vai tudo o mais... Levantei-me e fui beber um pouco dágua no
Realmente, eu estava muito satisfeito. O preso era, sem sombra de dúvida, pelo conhecimento da orga
guerrilha e conhecimento dos nomes dos chefões, elemento importante. Era “gente fina”, enquanto Pe
era “pica-fumo”.
Cada vez mais aumentavam as nossas surpresas. Era, no entanto, apenas a extremidade sul da “gran
No dia seguinte bem cedo, como combinado, o pequeno helicóptero de uma mineradora, vindo para o
desembarcamos, entreguei o “Geraldo” ao Major Othon Cobra no helicóptero, que retornou a Xambioá
posteriormente, foi levado para Brasília, onde foi interrogado. Tratava-se de conhecido militante do PC
antigo, baderneiro estudantil.
Conclusão: José Genoíno Neto foi o primeiro preso na mata, no dia 18/04/1972. A partir daí, todos os a
contrários foram varridos: eles estavam lá há muito tempo.
Graças aos militares, Genoíno foi recolocado no bom caminho, após cumprir um curto período de prisã
facultado pautar por uma vida honesta. Infelizmente, não aproveitou tal oportunidade.
Triste notícia veio depois. Dois bandidos perseguiram e assassinaram a facão o filho do Antonio Pereir
ter nos acompanhado poucas horas na mata. Trucidaram o pobre rapaz, decepando sucessivamente o
na frente da família indefesa, até o golpe final. Destruíram uma família honesta, simples moradores afa
no interior da mata. Tiveram que se mudar para Xambioá e a família foi se deteriorando, acabando, mo
desgosto. Nunca foi dada pelos bandidos uma nota de arrependimento, um pedido de desculpas à fam
Pereira. Pelo contrário, encobrem o assassinato frio e perverso. Hoje distorcem a verdade dos fatos, s
Agora, na expectativa de uns trocados, os moradores, eles próprios, distorcem os fatos a gosto dos inq
Pedro Albuquerque (Jesuíno) e José Genoíno (Geraldo), dizem hoje que foram torturados.
Primeiro, Pedro Albuquerque já tinha dado o “mapa da mina”, não havia motivo para torturá-lo. Confes
suicídio por medo do justiçamento, pois conhecia bem os companheiros. Ponderei ao Gen Bandeira in
havia necessidade de levá-lo na minha, mas o general deu a ordem: Leva o cara. Fez um passeio pela
três dias, completamente solto, livre, cumprimentado por alguns moradores, não tentou fugir. Nem mes
noite, quando dormimos nos abrigos do sítio do Antonio Pereira. Nem mesmo guarda foi estabelecida,
acreditávamos no perigo do “inimigo”.
Quanto a Geraldo, talvez a “tortura” a que ele se refere tenha sido a companhia de gente carrancuda e
remota área desolada da Amazônia, como ele mesmo alegou para o fato de ter tentado a fuga. Princip
lida a rudimentar mensagem que portava, que qualquer escoteiro teria decorado. Não havia motivo, po
torturá-lo. Falou apavorado, sem levar sequer um safanão. E está vivo até hoje, e muito vivo como esta
Quanto à mentira que dizem que nós já chegávamos atirando, quando encontramos os três, dois home
esclarecido como sendo a Oneide e supostamente com o marido, o Alfredo, e o outro não identificado)
acertá-los facilmente com tiros de FAL, mas nem passou pela nossa cabeça tal procedimento, pois ne
certeza de serem comprovadamente os “paulistas” que procurávamos. Mesmo que tivéssemos certeza
bandidos, teríamos que pegá-los vivos para interrogatório, a não ser que reagissem de arma na mão.
Esta é a verdadeira história da descoberta da “grande área de treinamento de guerrilha” de Marighela”
Albuquerque, uma equipe do CIE/ADF destruiu, em 12/04/1972, um ponto de apoio do grupamento C,
Antonio da Dina (Antonio Carlos Monteiro Teixeira) e, no prosseguimento, em 18/04/1972, prendeu na
guerrilheiro “Geraldo” (José Genoíno Neto), que descreveu toda a organização, o efetivo em pessoal e
terreno de toda a guerrilha, objetivos e tudo o mais.
Diz o Coronel Madruga: “Embora alguns atribuam a descoberta a uma possível indiscrição de Lúcia Re
Martins, guerrilheira que abandonou a área por estar doente, isto não é verdade. Na realidade o conhe
deveu-se ao fato da detenção em fevereiro de 1972, pelo Departamento de Polícia Federal, de um cas
bastante comprometido com a agitação no Movimento Estudantil, que se encontrava desaparecido e q
a Fortaleza. Tratava-se de Pedro Albuquerque Neto e Tereza Cristina (“Ana”)”. Daí em diante, foi um s
inexoráveis.
32
CROQUIS DA ÁREA
1973
Estreito
Belém-Brasília
Rio Tocantins
Rio Tocantins
Marabá
Araguatins
Rio Araguaia
Rio Itacaiunas
Rio Sororó
PA-70
Transamazônica
Araguanã
Xambioá
Paradalama Sítio do
Antonio Pereira
Cigana
Grupamento C
Rio Gameleira
Grupamento B
Santa
Isabel
São
Geraldo
NM N
16°
Ponte
*
São
Domingos
#
Metade
Rio
Fortaleza
balsa
balsa
Brejo
Grande
Grupamento A
Pau Preto #
#
#
#
# Caçador São
José
1
2
3
Op
Op
Op
Marabá-Xambioá = 120 km
Rumo = 151° V Decl.Mag (1970) = 16°W
(em linha reta)
Serra das Andorinhas
Quartel
*
Porto
Franco
Tocantinópolis
Para Belém
Araguaína
Guaraí
Rio Cipoal
-7°
-6°
-5°
50°W 49°W 48°W
Escala aprox. 1cm :14 km
Rio Sororosinho
Rio Xambioá
Vemos no croquis as estradas Op1, Op2 e OP3: estavam em construção inicial das picadas; eram con
estradas do General Bandeira”.
Ele, naturalmente como bom estrategista, previa a possibilidade do endurecimento das ações, caso a C
planejado com a cúpula do PC do B, fornecendo, além de muito dinheiro, o armamento necessário. Aí,
Brasileiro teria levado, na certa, todo o seu poderio para neutralizar os pupilos do dragão. Hydra e Dra
chumbo grosso, claro.
33
O croquis merece algumas considerações de ordem prática. Para efeitos de navegação, observe que a
grupamentos A e B tinha os limites: ao norte, a Transamazônica; a leste o rio Araguaia; a sul, o rio Gam
o rio Sororó e afluentes.
A área do grupamento C, ao sul da Serra das Andorinhas, tinha o limite sul balizado pela trilha de Para
Não havia, portanto, perigo de algum militar se perder na mata. Bastava pôr em prática as normas de s
marchar tranqüilamente até encontrar um dos limites, caso não encontrasse alguma trilha que, segura
algum sítio. O único perigo (para uns e sorte para outros) seria um encontro com o inimigo.
A distância Marabá-Xambioá, em linha reta, é de 120 km, o que fornece a escala aproximada pela eve
do desenho no manuseio de ampliação ou redução.
Depois de Marabá, o rio Tocantins inflete para norte, alimentando o grande lago de Tucuruí, continuan
desaguando no Guamá. A Transamazônica acompanha o Tocantins até próximo a Tucuruí e depois in
noroeste até Altamira, na margem esquerda do rio Xingu.
INTRODUÇÃO
“Aquele que morre por sua pátria, serve-a mais em um só dia que os outros em toda a vida” – Péricles
A guerrilha do Araguaia foi uma tentativa armada do Partido Comunista do Brasil (PC do B) de
tomada do poder, visando a implantação do regime comunista no nosso país. Já conta com
literatura razoável disponível inclusive na Grande Rede, em diversos portais.
Não se conformando com a decisão do PCB (Partido Comunista Brasileiro) de não adotar a
luta armada, Carlos Marighela, João Amazonas, Maurício Grabois, Ângelo Arroio e muitos
outros, declararam-se desfiliados, efetuando o grande racha de 1962, ocasião em que criaram
o PC do B (Partido Comunista do Brasil), afirmando a opção pela luta armada. Ressalto: em
1962, pleno governo Jango.
Desde 1952 que Marighela já vinha freqüentando cursos na Academia Militar de Pequim. Com
a revolução de 1959 em Cuba, seguida da ignominiosa traição de Fidel Castro transformandoa,
após vitoriosa, em revolução comunista, deu forte alento às esperanças dos comunistas
brasileiros, sempre derrotados nas inúmeras tentativas que realizaram. É bom notar que desde
a frustrada tentativa de 1935 os comunistas vinham sendo tolhidos em suas ações violentas
por Vargas, um período de governo forte, de pulso, para poder enfrentar o fanatismo dos
vermelhos.
O PC do B, porém, não perdeu tempo, não sossegou, enviou dezenas de militantes para os
países comunistas tratando da formação de quadros para o início da luta armada, aproveitando
a tolerância do período de governos eleitos pelo povo, governos democráticos. No início de
1964, antes da Revolução de 31 de Março, a maioria dos elementos que formaria a cúpula do
grupo militar da guerrilha do Araguaia, como o “Velho Mário” escreveu, os melhores, desde
André Grabois, Divino Ferreira de Sousa e mais onze militantes, estavam em Cuba e na China
fazendo cursos militares, com objetivo de ações terroristas.
No final, na realidade, a guerrilha não passou de uma aventura, de uma demonstração de
enorme desprezo pela vida humana, de covardia, irresponsabilidade e traição por parte da
cúpula do Partido, como ficará constatado pelo desfecho da luta, que eles, os chefes
comunistas aboletados nas mordomias de São Paulo, levaram mais de dois anos para
tomarem conhecimento da derrota dos companheiros vergonhosamente abandonados nas
matas do sudeste do Pará.
A partir de 1966 começaram a chegar na região do Araguaia, sendo o Osvaldão um dos
primeiros.
O período das ações que vamos tratar mais objetivamente é de abril de 1972, quando a área
da guerrilha foi descoberta, a fevereiro de 1974, quando ela foi derrotada definitivamente.
Logo após a morte de Marighela, em 1969, os Órgãos de Inteligência das Forças Armadas
iniciaram estudos visando selecionar as diversas possibilidades plausíveis para identificar as
áreas de treinamento de guerrilha possíveis, para dar início aos trabalhos de campo. O eixo
Belém-Brasília era um dos mais prováveis, que poderia abranger uma enorme área desde o rio
Xingu, a oeste, passando pelo rio Araguaia e chegando até o rio São Francisco, a leste. De sul
para norte, de Brasília a Belém do Pará. Acertaram em cheio.
Recebi ordem de meu chefe, Coronel João Batista Baère de Araújo (Ch CIE/ADF), para efetuar
incursões de busca de informações ao longo de toda a área. A estrada Belém-Brasília, estrada
pioneira, foi percorrida freqüentemente e estas incursões, em dois anos, nos deram suficientes
indícios de que a área procurada estava nas adjacências de Araguaína e Marabá. Que
indícios? Em nossas andanças pela estrada, entrando em tudo que era cidade, fazendas com
10
grande número de trabalhadores, paradas de caminhões, conversando com muita gente,
sentíamos o estado de espírito da população, o que permitia a comparação de dados. Além
dos trabalhos de retificação do traçado da estrada preparatórios para o seu asfaltamento, com
a Rodobras trabalhando febrilmente com grande quantidade de operários, engenheiros de
várias firmas empreiteiras, enorme quantidade de máquinas, estavam em andamento os
trabalhos de reconhecimento para a construção da rede de micro-ondas da Embratel para
Belém, com distribuição de retransmissoras / repetidoras de TV e telefonia, com a aquisição de
terreno para a construção dos prédios das estações e áreas do campo de antenas e que iria
atender a quase todas as cidades do trajeto e as adjacentes. O movimento na vasta região já
era considerável. Eu fiquei conhecido como engenheiro da Embratel, da fiscalização da obra
Por ter acompanhado um meu antigo professor do IME, Coronel Pinto Guedes, na inspeção da
obra da Embratel, Desse modo, com minha equipe, tínhamos acesso facilitado; tornei-me
persona grata na região. Em Porto Franco e Tocantinópolis, porém, começavam as
desconfianças, as restrições.
Já em 1969, travei conhecimento com o médico Murilo Brandão Vilela, meu conterrâneo, que
mantinha uma maternidade em Porto Franco e atendia às duas cidades, uma em cada margem
do rio Tocantins. O dr Murilo gostava de caçar, o que nos aproximou. Clinicava na mesma
maternidade o médico João Carlos Haas Sobrinho, conhecido militante comunista procurado
no sul do país e que desapareceu de lá, reaparecendo, em seguida, em Porto Franco. Mas
logo desapareceu de lá, ninguém sabia para onde teria ido (soubemos depois que tinha ido
para os cursos de terrorismo em Pequim). Desaparecia e voltava; eu perguntava e ninguém
sabia onde ele andava, nem mesmo o dr Murilo. Coisa muito estranha acontecer no nível de
médicos, principalmente num interiorzão daqueles. Até que o General Bandeira, perdendo a
paciência, me deu ordem para prender e levar para Brasília os dois, Murilo e Haas. Convenci o
Gen Bandeira que o dr Murilo nada sabia das atividades políticas do Haas. Quando o Haas
apareceu por lá, o dr Murilo estava assoberbado, trabalhando demais no atendimento médico
da população e não sabia ou não se interessava pelos seus antecedentes políticos. Montaram
uma pequena maternidade e a prisão dos dois iria causar muito sofrimento à população. Mas
quando cheguei lá no rastro do Haas, ele tinha desaparecido (depois soubemos que já estava
no Araguaia). O Gen Bandeira, de certo modo, me culpou por tê-lo deixado escapar. Além do
mais, como iria eu prender o Haas sem ficar “queimado” definitivamente na área? O dr Murilo
chegava a ficar agressivo quando se falava sobre o paradeiro do Haas. “Pera aí dr, eu não
tenho nada com isso, mas em Brasília estamos escutando coisas...”. Ele era amigo e admirador
do Haas, mas eu tinha certeza, que o dr Murilo de nada sabia ou, se sabia, não imaginava a
gravidade das atividades do Haas, inclusive o detalhe que ele tinha curso de treinamento de
guerrilha na China e em Cuba.
Um morador de Porto Franco, muito ligado a políticos e funcionários da Prefeitura da cidade,
em conversa de bar, depois de entornar umas e outras, me revelou que o Haas estava metido
com pessoas muito esquisitas, desconhecidas de todos, gente de pouca conversa, parecendo
pistoleiros. Perguntei para onde ele tinha ido e a resposta foi reveladora: Xambioá e Marabá.
Várias vezes indo a ambas, ninguém sabia do Haas. Como que um médico passa
despercebido naquele fim de mundo, onde a falta de médico é quase total? Impossível. Minhas
insistentes perguntas tornaram-me suspeito por lá, mas eu rebatia que estava trazendo um
recado do dr Murilo para ele.
Não tínhamos dúvida, eu e o João Pedro, membro efetivo da minha equipe, que a área quente
era entre Tocantinópolis, Xambioá e Marabá. E o Haas estaria lá, com toda a certeza.
Em novembro de 1970, o Exército transferiu uma manobra que estava prevista para o Sul do
país, já com verba reservada, e executou uma Operação na área do “bico do papagaio”. Para
mim, eram as manobras Marabá 70, como primeiro foi denominada, onde participei como
observador, livre para atuar onde bem desejasse. Embrenhei-me na mata e conversei com
muitos moradores. Depois, o comandante da esquadrilha de helicópteros do Parasar era um
coronel meu conhecido dos tempos de pára-quedista, permitiu-me voar muito sobre a área,
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descendo em diferentes locais, completando o reconhecimento que eu desejava. Os
fazendeiros e moradores da mata tinham notícias de muita gente esquisita em diversos locais,
fazendo tudo menos atividades agrárias ou semelhantes. No final, eu era capaz de garantir que
eles, os discípulos de Marighela, estavam lá. O problema é que eu não tinha provas concretas,
o argumento principal de convencimento, principalmente no meio militar. Depois que consegui
provas e inadvertidamente queimei junto com a destruição de uma base de apoio deles,
mesmo afirmando verbalmente tudo que vi, os documentos que li e separei, planos de
treinamento militar, não adiantou. Numa chegada a Belém, ao explanar minhas suspeitas, via
rádio, ao Coronel Baère em Brasília, fui mandado direto ao Rio de Janeiro apresentar os
argumentos sobre a guerrilha estar lá próximo a Marabá. Explanei pacientemente tudo numa
reunião no CIE, ressaltando as dificuldades da área: aí, perdi a paciência, dei uma resposta
arrevesada a um coronel que dormiu o tempo todo na reunião e ela foi encerrada bruscamente.
Depois de todo o meu esforço tentando explicar porque achava que eles estavam lá, o tal
coronel dorminhoco acorda e me pergunta a que facção eles pertenciam. “Não tem problema,
coronel, é muito fácil, o sr vai lá e pergunta pra eles”. Perdi mais um round e quase fui preso.
Nunca fui bom na arte de “vender” argumentos, principalmente em reuniões com coronéis
barrigudos. Não lembro se a reunião era presidida pelo Coronel Fiúza ou Coelho Neto.
Mas as buscas continuaram e, em 1971, demos de cara com os terroristas do Molipo (Anexo
IX) ao longo da Belém-Brasília, o que tirou um pouco o foco da busca do local da “grande
área”, vasculhada até então a oeste da estrada. Mas, mesmo assim, a descoberta veio logo em
seguida, facilitada pela deserção de um casal desiludido e revoltado com normas injustas e
impostas aos guerrilheiros, Pedro Albuquerque Neto e Tereza Cristina, como veremos mais
adiante.
Mesmo sem o aparecimento desse casal, sabemos hoje, já havia desconfiança, restrita ao
pessoal do CIE/Rio, do local aproximado onde estava a tal tão almejada “grande área”, por
informes oriundos de São Paulo e que eram engavetados no Rio. No meu entender,
forçosamente a “grande área” teria sido descoberta em 1972; já estava por demais madura...
Pedro Albuquerque (o “Jesuíno”) e José Genoíno (o “Geraldo”), ambos Neto; ambos traidores,
como afirmou inclusive o Presidente do PC do B, João Amazonas Pedroso, ambos até hoje
intrinsecamente ligados aos comunistas internacionais, agora pregando o gramscismo,
ideologia de um Secretário Geral do Partido Comunista italiano posto na cadeia por longo
período como perigoso para a sociedade em que vivia. Um, na política, no Sudeste, dirigindo o
PT, outro como professor universitário em Fortaleza, CE. O da política, enterrado até o pescoço
com problemas na Justiça, no mensalão, com empréstimos irregulares para explicar e mais um
monte de acusações graves, refinada corrupção, é muito útil ao partido da lei de gerson. O
ilustre professor, em Fortaleza, é muito mais útil doutrinando seus infelizes alunos, do que
afastado da militância, taxado de traidor. Estes os motivos por que estão livrando a cara dos
dois.
Estive com ambos em minhas mãos, a mais de cem quilômetros para dentro das matas do
Pará, no comando de uma equipe de cerca de oito militares. É fácil imaginar tudo o que poderia
ter acontecido aos dois. Um, tentando negar que fazia parte do bando, tentando inclusive fugir
e não obedecendo aos tiros de advertência ara o ar, sendo pegado em seguida enredado no
cipoal, poderia facilmente ter sido “feito” legalmente, pois tentou fugir; o outro, já tendo
confessado e cortado os pulsos por medo de ser justiçado pelos próprios companheiros, como
confessou, poderia ter tido o mesmo e merecido destino, contumaz adepto do suicídio, era só
ter-lhe dado uma ajudazinha... No entanto, estão aí os dois “lépidos e fagueiros”, mentindo e
tentando aviltar a Instituição que lhes salvou a vida. Um, reeleito deputado. Outro professor
turista entre Fortaleza e Canadá. Como é bom ser comunista na corriola de larápios do atual
governo...
Diferentes Guerras – Fatos semelhantes
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Ao término da Guerra de Canudos (out/1897), com a destruição dramática do arraial de Antonio
Conselheiro, as discussões tomaram grande espaço da Imprensa e das conversas nos salões
da República nos grandes centros: Antonio Conselheiro e seguidores estavam finalmente
destruídos.
O livro “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, teve grande impacto, lançado cinco anos depois
de terminada a guerra, com o povo ávido de notícias confiáveis.
Embora as numerosas reportagens e o livro de Euclides da Cunha tenham revelado inúmeros
graves conflitos da época, o mais real, o mais forte, foi, sem dúvida, o do fanatismo dos
seguidores de Antonio Mendes Maciel, que resultou no massacre. O próprio governo deu a
ordem: “Não deixem o Conselheiro escapar...”. Temia-se o ressurgimento do movimento.
Miséria e fanatismo religioso eram assuntos secundários...
Alguns políticos influentes e muitos jornalistas da época tentaram identificar o fanatismo
político, de monarquistas contra republicanos, como a causa da questão. Embora esta
desculpa tenha sido aproveitada mais como justificativa para os grandes gastos oficiais
havidos, o fanatismo religioso foi, sem dúvida, que transformou os miseráveis conselheiristas
em verdadeiros tigres nos sangrentos combates, destruindo sucessivamente os poderosos
contingentes, numerosos e bem armados, mas desmotivados e mal comandados, das diversas
expedições enviadas para destruir Canudos. As armas e a munição da tropa derrotada
alimentava o arsenal dos jagunços.
Os combates entre as forças regulares e os jagunços surpreenderam a todos pela violência e
nas cidades era o assunto mais comentado, criando inclusive loquazes e entusiastas adeptos
urbanos dos objetivos do conselheiro maltrapilho, inculto, boçal.
Os artigos, palestras, e discursos do Coronel Cláudio Moreira Bento, da Academia de História Militar T
(AHMTB), em que me baseei, não deixam a menor dúvida: não viveremos o suficiente para ver a Histó
Brasil contada em termos honestos.
Dada a ordem para a destruição de Canudos, após a 3ª Expedição ser trucidada, havia unanimidade n
reação de Canudos “não era de seres humanos” e, portanto, na voz do chefe da nação, Prudente de M
devia ser destruída e dela não se deixar pedra sobre pedra”.
Canudos era constituída “de comerciantes, agricultores, escravos libertos, foragidos da justiça, mendig
Fanáticos que acreditavam ser Conselheiro um Deus (sebastianistas) e nele confiavam cegamente. Cr
foragidos, desertores do Exército e Polícias Militares e uma quantidade considerável, embora minoria,
comerciais que fingiam acreditar em Conselheiro e cujo real objetivo era negociar e lucrar. O efetivo da
impreciso, que alguns caracterizam como atingindo a marca de dez mil com romeiros das redondezas
grandes festas religiosas.
A liderança nos combates era exercida pelos grupos de bandidos, desertores e comerciantes desones
compunham a população de Canudos acima descrita. João Abade, conhecido chefe de quadrilhas de
como são chamados por lá, nas cidades); de Pajeú, perigoso desertor da Polícia de Pernambuco; do e
desonesto comerciante Antônio Vilanova; de Pedrão, Barnabé, Calixto, João Grande, Chico Ema, Vice
outros fora-da-lei.
A degola e a barbárie começaram de parte dos conselheiristas na destruição da 3a Expedição. Euclide
Os Sertões, relata que os conselheiristas barbarizaram os soldados que lhes caíram em mãos. Matara
a corpo e degolaram muitos que capturaram vivos. Degolaram mortos e vivos e colocaram suas cabeç
estrada enfileiradas de cada lado e com os rostos voltados para o interior, além de que empalaram gra
militares, sendo o coronel Tamarindo num galho de árvore, bem visível. Até o corneteiro teve sua corn
totalmente pelo ânus.
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O que se esperar como reação a este massacre que barbarizou e matou 126 homens, sendo 13 oficia
Exército em 50 soldados da Polícia Militar da Bahia integrantes de uma coluna de 1300 homens?
O coronel Moreira Cezar morto na ocasião e que não chegou a cortar nenhuma cabeça (como era sua
país) e, pelo contrário, teve a cabeça de muitos de seus infelizes comandados cortadas, passou ao fol
qualificado como o corta-cabeças, além de ridicularizado, sem uma oportunidade até hoje, de um julga
isento como o reclamou em vão recentemente seu trineto.
É propalado que de Canudos não escapou ninguém. Todos foram eliminados, a exceção de um númer
velhos, mulheres e crianças. Hoje se sabe que isto não é verdade e que muitos deixaram Canudos ant
E até líderes da reação que morreriam de velhos, indo alguns mais tarde aplicar sua experiência e seu
militares em defesa do Padre Cícero, cercado em Juazeiro em 1910. Existe até relato de conivência hu
soldados da Polícia mandando que conselheiristas em retirada se apressassem a deixar Canudos, poi
estava sendo feito. Outro exemplo é o de João Regis que relatou pessoalmente à imprensa como deix
sua família, sob cerco.
Trechos de artigos de autoria do Coronel Cláudio Moreira Bento, Presidente da Academia de História M
Brasil (AHIMTB), transcrevemos: “No Seminário sobre a Guerra de Canudos no IHGB (Instituto Históric
Brasileiro), foi exposto documento da época em que um chefe militar pedia autorização para incendiar
prevenir a propagação de doenças, face o grande acúmulo nela, particularmente em sua parte central,
avançado estado de decomposição. Na Guerra do Paraguai a cremação de cadáveres de mortos em b
foi empregada para prevenir a propagação de doenças e evitar o exaustivo trabalho de sepultamento d
batalhas.
Conselheiro era anti-republicano em razão de o recém-criado regime republicano haver introduzido o
separado a Igreja do Estado e estatizado os cemitérios que pertenciam a Igreja etc. Seu catolicismo er
radical baseado na sua doentia interpretação da Bíblia. Não possuía nenhuma inspiração ou influência
tempo era vedado a Igreja envolver-se em política. Uma de suas prédicas mostra seu envolvimento po
República, dentro de sua igreja e contrariando orientação da Igreja na Bahia.
“... Falarei sobre assunto que tem sido um assombro e abalo dos fiéis... A República que é um grande
um novo governo acaba de ter seu invento e de seu emprego lançar mão como o meio mais eficaz e p
extermínio da Religião (Católica)... A República é manifesta ofensa à lei de Deus...”.
“Seu catolicismo separatista radical e desobediente a Igreja da Bahia; sua recusa em dialogar com o g
seu investimento no púlpito de sua igreja contra a República e seu ordenamento jurídico e mais a recu
impostos e o fato de ter sido ultrapassado por canudenses bandidos e desertores que praticaram violê
desnecessárias contra tropas do governo, além de profanação de cadáveres, conduzem o analista isen
responsabilizá-lo, expressivamente, pela grande Tragédia de Canudos. Hoje os netos e bisnetos dos q
Exército, 11 polícias militares e muitos soldados para destruir Canudos, “sem deixar pedra sobre pedra
erigir-lhe uma estátua reverenciando Conselheiro. Esqueceram, quando não vilipendiaram, a memória
brasileiros que foram a Canudos para cumprir a delegação unânime de seus avós e bisavós. Esquecer
de reverenciar os mais de 1.000 militares e civis mortos e que lá foram cumprir sua missão constitucion
Péricles, arquiteto da Democracia grega ao declarar “que aqueles que morrem em defesa de sua pátria
ela num só dia que os demais em todas as suas vidas!” Eis um ponto como outros tantos a reflexão. T
o sacrifício supremo dos liderados de Conselheiro. A Sociedade Civil tirou lições do episódio? Canudo
do que no tempo de Conselheiro, até ser inundada mais recentemente.
Valeu o sacrifício? Quem ganhou e quem ainda ganha com esta tragédia ou hecatombe social? Os cin
romancistas, os jornais, a política? São questões reais que ficam no ar e para as quais ainda não temo
adequadas, convincentes. Teria prosperado Canudos se não tivesse sido atacada? Era uma ameaça a
Nacional? Comparando A Guerra de Canudos a um iceberg, até hoje só se conhece a ponta!”
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O revanchismo alcança 100 anos atrás. Sempre que é empregado o Exército, a população se consider
todos inventam os heróis. É sempre assim. Por razões de fundo ideológico, na mídia atual procura-se errada, exatamente como naquela época, de pós-Guerra de Canudos.
Na peça de Júlio Cezar de Shakespeare, Marco Antônio diz a certa altura a Brutus :”As boas obras que
praticam são sepultadas com os seus ossos. No entanto só o mal sobrevive.”
Na Guerra da Tríplice Aliança (Guerra do Paraguai), já quase no final, em seu livro “A Retirada
da Laguna”, um dos seus episódios mais dramáticos, Taunay descreve as atrocidades que os
soldados paraguaios cometeram contra os nossos, caçados pela cavalaria, fustigados
diariamente por queimadas, trucidados os doentes de cólera indefesos deixados para trás; a
resistência era a possível, feita no desespero. Embora não tendo o vigor de Os Sertões, A
Retirada da Laguna mostra, porém, o heroísmo dos nossos soldados, a fibra e o amor à Pátria.
Aí, você justificará tudo, ou quase tudo (olho por olho, dente por dente - não deixa de ser uma
lei natural):
“Cerro Corá
Solano López, vestindo alva camisa de cambraia
Calça militar
Galopa em direção à mata, em fuga
Persegue-o Chico Diabo
Mulato esguio,
Com uma lança perfura o ventre de López,
Outro lhe fura a testa com o sabre
Recebe o tiro fatal.
Cheia de ódio, a soldadesca cai sobre o corpo inanimado”.
Assim terminou a Guerra do Paraguai.
Chico Diabo era o Cabo Francisco Gomes Diniz; o último tiro, o tiro fatal, foi dado pelo Soldado João S
Embora nem de longe possamos comparar as campanhas da Guerra do Paraguai e mesmo as
de Canudos com a aventura do Araguaia, podemos estabelecer algumas considerações sobre
o fanatismo, afinal, a característica que mais me impressionou em toda a luta no Araguaia. E
eram dois: o fanatismo religioso e o fanatismo político.
O sentimento religioso primitivo, ou superstição, vem desde o homem pré-histórico; o
sentimento do sagrado, a noção do sobrenatural. Endeusar homens é coisa muito mais recente
e resultou sempre em grandes flagelos, guerras intermináveis, no massacre de milhões de
pessoas de diversos povos e credos. Hitler, Hiroito, Mussolini, Stalin, Mao Tse Tung, Pol Pot,
Fidel, Sadam, etc. são exemplos mais modernos, ainda frescos na nossa lembrança.
Solano Lopez, endeusado pelo povo vizinho, levou a grandes sofrimentos os seus governados;
até hoje eles ainda sofrem as conseqüências.
Quando os dois fanatismos, religioso e político, se juntam, reforçando-se, quando o fanático
político tem nível intelectual muito superior ao do fanático religioso, caso do Araguaia, o
domina. Os poucos moradores que aderiram aos guerrilheiros, cheios de superstições,
crendices e medos do sobrenatural, atribuíram e difundiram qualidades sobrenaturais aos
guerrilheiros, transformaram-nos em santos depois de mortos. Não se rendiam, mesmo na
maior e mais evidente desvantagem, pegos de surpresa; não tinham a menor consideração
pela vida do companheiro ao lado e reagiam, sabendo que o revide seria instantâneo e fatal,
colocando em perigo a vida de todos eles. Osvaldão virava lobisomem; Dina, borboleta; eles
não andavam na mata, flutuavam, levitavam... não deixavam rastros. As covas onde foram
sepultados viraram lugares sagrados, de reza, romarias deprimentes.
O comunista, em seu fanatismo, se aproveita da devoção religiosa do brasileiro inculto para
enganá-lo; é o que estamos cansados de ver, inclusive nas grandes cidades. A longa e
íngreme escada da miséria desesperançada de um futuro melhor completa o quadro.
Passados mais de trinta anos da vergonhosa derrota no Araguaia, eles, os derrotados, ainda
carregam um ódio doentio contra os que lhe deram a anistia e a oportunidade de se
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reajustarem à sociedade. Durante a luta não realizaram um ataque sequer e seus atos
cantados hoje como heróicos foram sempre à traição. Seus sobreviventes descambaram para
o que estamos vendo: corrupção em todos os setores em que se metem, subornos,
assassinatos de correligionários.
O que levou um grupo de brasileiros a decidir pegar em armas, desde 1962, para mais uma
tentativa de comunizar o país, em pleno governo João Goulart? Imbuir-se de idéias comunistas
é permitido pela nossa Democracia, mas querer impingir tais idéias pelas armas é crime.
Na Intentona Comunista de 1935, foram mortos 600 (seiscentos) civis e 33 (trinta e três)
militares. Mais uma vez derrotados, os comunistas demonstraram que nada aprenderam.
No dia 27 de Novembro de 1935, ocorreu o maior ato de traição e covardia já perpetrado na
História do Brasil.
Um grupo de traidores, a soldo de Moscou, tentou implantar, no Brasil, uma ditadura
comunista, por meio de uma luta sangrenta. O levante armado irrompeu em Natal, Recife e Rio
de Janeiro, financiado e determinado pelo Komintern, órgão soviético que pretendia
internacionalizar o comunismo, que considerava a ação violenta como uma promissora
experiência para a implantação do regime comunista em toda a América Latina.
Ao anoitecer do dia 23 de novembro, em Natal, os comunistas conseguem dar início ao
movimento. Apoderaram-se do armamento e munição do Exército e distribuíram-se em grupos
para diversos pontos da cidade. Esses bandos de agitadores engrossavam-se no caminho com
inúmeros adesistas aventureiros, a maioria dos quais nem sabia exatamente do que se tratava.
Investiram contra tudo e todos, cenas jamais vistas de vandalismo e crueldade tiveram lugar.
Casas comerciais e residências particulares foram saqueadas e depredadas. Navios no porto
foram ocupados. Grande número de instalações foram danificadas com selvageria.
Um clima de terror foi estabelecido em toda a cidade. Violações, estupros, pilhagens e roubos
generalizaram-se. Dois cidadãos foram covardemente assassinados sob a acusação de que
estavam ridicularizando o movimento. A população começou a fugir de Natal.
Foi este, em síntese, o início da história vergonhosa da tentativa dos comunistas em tomar o
poder. Foi o exemplo concreto do que pode representar a ao poder de um grupo de
inescrupulosos e dispostos às ações mais bárbaras, seguidos por uma malta de oportunistas e
ignorantes.
Os acontecimentos de Natal precipitaram a eclosão do movimento em Recife. Aí se travou o
mais cruento conflito de todo o levante.
Na manhã do dia 25 de novembro, um sargento, chefiando um grupo de civis, atacou a cadeia
pública de Olinda, ao lado de Recife, PE. Logo depois, o Sargento Gregório Bezerra tentava
apoderar-se do Quartel-General da 7ª Região Militar, ao lado da Praça 13 de Maio, centro do
Recife, assassinando covardemente o Tenente José Sampaio, e ferindo o Tenente Agnaldo
Oliveira de Almeida, antes de ser subjugado e preso.
As forças legalistas já dispunham do apoio de Artilharia e atacam fortemente os comunistas;
havia mais de uma centena de mortos nas fileiras rebeldes.
No dia seguinte, Recife já estava completamente dominada pelas forças e os rebeldes
derrotados.
Notícias confusas e alarmantes dos acontecimentos de Natal e Recife chegavam ao Rio de
Janeiro. Esperava-se uma ação comunista a qualquer momento, sem que se pudesse precisar
onde surgiria, em qual Unidade eclodiria.
Na Escola de Aviação, em Marechal Hermes, os Capitães Agliberto Vieira de Azevedo e
Sócrates Gonçalves da Silva, juntamente com os Tenentes Ivan Ramos Ribeiro e Benedito de
Carvalho assaltaram o Quartel de madrugada, e dominaram a Unidade. Vários oficiais foram
assassinados ainda dormindo. O Capitão Agliberto matou friamente o seu amigo Capitão
Benedito Lopes Bragança que se achava desarmado e indefeso.
Em seguida, os rebeldes passaram a atacar o 1º Regimento de Aviação, cujo comandante era
o Coronel Eduardo Gomes, que, apesar de ferido, iniciou a reação.
Forças da Vila Militar acorreram em apoio ao Regimento e, após algumas horas de violenta
fuzilaria e bombardeio de Artilharia, conseguiram derrotar os rebeldes.
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No 3º Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha, acontecimentos mais graves ocorreram. Os
rebeldes, chefiados pelos Capitães Agildo Barata, Álvaro Francisco de Souza e José Leite
Brasil conseguiram, na mesma madrugada, após violenta e mortífera refrega, no interior do
quartel dominar a Unidade. Ao amanhecer, restava apenas um núcleo de resistência legalista,
sitiado no Pavilhão do Comando, onde se encontrava o Coronel Afonso Ferreira, comandante
do Regimento.
Nas últimas horas da madrugada, acionados diretamente pelo Comandante da 1ª Região
Militar, General Eurico Gaspar Dutra, tropas de Infantaria apoiadas por Artilharia, o Batalhão de
Guardas e o 1º Grupo de Obuses, tomaram posição nas proximidades do aquartelamento
rebelado, em frente ao que é hoje o Instituto Benjamin Constante, na Avenida Pasteur e foi
iniciado o bombardeio de Artilharia, enquanto a Infantaria avançava firmemente sobre a
posição inimiga.
Durante toda a manhã do dia 27 desenvolveu-se um duro combate. O edifício do quartel foi
transformado em uma verdadeira fortaleza, defendida pelas metralhadoras dos amotinados que
também ocuparam as elevações vizinhas. As explosões das granadas da Artilharia reduziram a
escombros as velhas paredes que o incêndio do madeiramento carbonizava. A Infantaria
legalista avançou e tomou posição na praça fronteira ao quartel, preparando o ataque final.
Os amotinados tentaram parlamentar com o comando legal, mas foram repelidos em suas
propostas: rendição total incondicional.
Finalmente, às 13 horas e 30 minutos, bandeiras brancas improvisadas foram agitadas nas
janelas do edifício, parcialmente destruído; era a rendição.
A intentona comunista de 1935 no Brasil é apenas um episódio no imenso repertório de crimes
que os comunistas vêm cometendo no mundo inteiro para submeter os povos ao regime
opressor denominado “ditadura do proletariado”, desde o massacre da família real russa, das
execuções na época de Stalin até aos nossos dias. É, indubitavelmente, o domínio da força
bruta, como estamos cansados de ver, o domínio da ignorância. Agora, eles mudaram de
nome: são socialistas. Mas não enganam mais ninguém que tenha um pouco de discernimento.
Em 1964 eles novamente já tinham levado o Brasil ao caos, mas não contavam com a
condenação e reação do povo brasileiro, que foi às ruas exigir a intervenção das Forças
Armadas para conterem a revolução planejada e já em plena execução, com o beneplácito de
Jango, ambicioso e completamente despreparado.
Posto o país em ordem, o governo Castelo Branco iniciou um dos períodos de maior progresso
jamais presenciado no País. Embora muitos políticos tivessem seus objetivos impedidos,
contrariados, o País entrava numa nova fase ordeira e retornando à normalidade. Até que, um
pouco antes do segundo governo militar, o do General Costa e Silva, os comunistas, sempre
eles, se reorganizaram e começaram a fustigar com atentados, assaltos e seqüestros bem
planejados. Agora, eles se diziam lutando pelas liberdades, contra a ditadura, mas o dinheiro
vinha dos países comunistas, ditaduras duríssimas, da União Soviética, da China, da Albânia,
através Cuba.
Assim é que, em jul, um atentado à comitiva do General Costa e Silva, no Aeroporto dos
Guararapes, em Recife, com dois mortos e muitos feridos, abala a índole pacífica dos
brasileiros de bem. Morreram um Almirante e um Jornalista. Entre os inúmeros feridos
gravemente estava o Major do Exército Sylvio Ferreira de Silva, mutilado para sempre.
Devido a um pequeno atraso da comitiva, não aconteceu o pior. E sucedem-se os atentados.
Para conter a escalada da violência o governo é obrigado a reformular o esquema de
segurança, endurecendo as medidas.
Marighela fez cursos de terrorismo na Academia Militar de Pequim, em 1952, aprendendo toda
sorte de maldades para empregar no Brasil contra seu próprio povo. Justamente em 1952 eu
estava sendo declarado Aspirante, após cursar a Academia Militar das Agulhas Negras,
prestando o juramento para defender o Brasil: “... dedicar-me inteiramente ao serviço da Pátria,
cuja honra, integridade e instituições defenderei até com o sacrifício da própria vida”.
Estas são as palavras finais do sagrado juramento à Bandeira que todo cidadão brasileiro faz
ao ser incorporado às Forças Armadas ou ao se tornar apto a combater para defendê-la.
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Gostaria de saber qual o juramento que Marighela, Maurício Grabois, André Grabois, Genoíno,
Dirceu, e outros, fizeram ao término de seus cursos de terrorismo em Cuba e na China...
Mesmo em pleno governo eleito pelo povo, o PC do B enviou grande número de militantes para
Cuba e Pequim, para cursos de terrorismo.
Em 1968, o Presidente Costa e Silva é levado a decretar o AI-5 para poder conter a escalada
da violência, com os terroristas apoiados por alguns intelectuais, alguns congressistas, muitos
professores, inocentes úteis e religiosos da ala festiva da Igreja que insuflavam a violência com
o argumento de que estavam lutando contra a ditadura.
Em 1969, Carlos Lamarca, diante de fortes indícios de desvio de conduta já de conhecimento
de seus superiores hierárquicos, desertou levando 7 militares cooptados e um caminhão
repleto de armas de guerra, com muita munição. Seqüestrou, assaltou banco, matou friamente
muita gente inocente, enfim, um verdadeiro Lampião da subversão, traidor da Pátria. Seu
bando trucidou o Tenente Alberto Mendes Júnior, a coronhadas após ter sido barbaramente
torturado por três dias consecutivos. Lamarca foi morto em 1971, entre Brotas de Macaúbas e
Oliveira dos Brejinhos, no sertão da Bahia, após uma firme e precisa perseguição.
Uma onda de seqüestros, de assaltos a bancos, assassinatos e uma série de diversas
delinqüências se sucediam, sobressaltando a população pacífica e ordeira. No assalto à casa
de Ademar de Barros, os terroristas, hoje já identificados, levaram mais de 2,5 milhões de
dólares.
Nos documentos de Carlos Marighela, morto em São Paulo, em novembro de 1969, teve-se a
primeira alusão à “grande área” de treinamento de guerrilha que estava sendo preparada.
Desde então, análises, estudos, planejamentos, foram elaborados pelos órgãos de inteligência
com o intuito de identificar possíveis áreas.
Durante a luta armada, foram eliminados os bandidos que resistiram à voz de prisão, os maus
brasileiros que optaram por palavras enganadoras de conhecidos e antigos comunistas; quem
não resistiu à voz de prisão foi preso, julgado, cumpriu pena e foi solto. Até mesmo quem
matou à traição e foi condenado à morte, depois amenizada para prisão perpétua, foi solto e
ocupa atualmente cargo de juiz do trabalho...
As raposas velhas do PC do B desviaram os jovens, os iludiram e os abandonaram à própria
sorte nas selvas do Pará, fugindo antes do primeiro tiro e aboletando-se no conforto das
cidades. Nunca trabalharam. É preciso que seja ressaltado tudo isso: eram velhos conhecidos
comunistas, subvencionados por nações infelicitadas por um regime de escravidão total, que
pretendiam nos impingir.
MINHA RELUTÂNCIA
“Vocês sabem que existem os que, combatendo ou só participando no passado de
nossas atividades de garantia da lei e da ordem, pela omissão, por acomodação ou covardia, ou
até por adesão a postulados socialistas oportunos, hoje criticam ações que nunca tiveram
coragem de criticar, olhando nos olhos ou participando suas críticas, formalmente. Alguns até
posaram e posam de heróis, muitos escrevendo ou dando depoimentos sem brilho a título de
"escrever a História" da Revolução de 1964” – Coronel José Luiz Sávio Costa
Relutei

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Por que escrever sobre assunto tão violento?

Nãp fomos nós, militares, que escolhemos a luta. Impedimos uma revolução comunista e tivemos que segurar os bandidos que hoje se dizem patriotas: queriam transformar o Brasil numa Cuba continental, como eles mesmos reconhecem. Partiram para a luta, matando inocentes e tiveram o devido troco. Graças a Deus, foram impedidos do tenebroso intento.

MINHA RELUTÂNCIA
“Vocês sabem que existem os que, combatendo ou só participando no passado de
nossas atividades de garantia da lei e da ordem, pela omissão, por acomodação ou covardia, ou
até por adesão a postulados socialistas oportunos, hoje criticam ações que nunca tiveram
coragem de criticar, olhando nos olhos ou participando suas críticas, formalmente. Alguns até
posaram e posam de heróis, muitos escrevendo ou dando depoimentos sem brilho a título de
"escrever a História" da Revolução de 1964” – Coronel José Luiz Sávio Costa
Relutei bastante em tornar público este texto.
A insistência dos amigos para que eu mesmo escrevesse sobre minhas experiências, desde que inseri um relato sumário sobre o assunto, principalmente para corrigir os fatos vergonhosamente deturpados e d
imprensa mentirosa, comprada e descaradamente revanchista (eles não queriam me dizer: “Escreve, A
guerra, enquanto está vivo...”).
Mantive silêncio durante todos esses anos, mesmo no meio militar, principalmente por ser assunto clas
secreto pelo Exército. No entanto, aqueles que tinham a obrigação de oficialmente rebater os ataques
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fizeram. Acovardaram-se. Esqueceram o principal, que a disciplina e a hierarquia não têm apenas um
impelido naturalmente a entrar nesta “nova” luta, que eu tinha deixado já ganha, há muito, “na esfera d
atribuições”.
Antes de cursar o IME (Instituto Militar de Engenharia), eu já era pára-quedista, tendo realizado todos o
o curso pioneiro de Forças Especiais, onde fui aluno-instrutor. O IME foi para mim, além de um acalen
sonho de adolescente, um “carro de fogo”, uma prova inesquecível; foram quatro anos de estudos com
elevadíssimo nível intelectual, a maioria com mestrado e doutorado no exterior, principalmente no MIT
Institute of Technologie) e na França.
Nos cursos da Escola de Pára-quedistas, fui iniciado no salto-livre, necessário para o
cumprimento de operações especiais, estratégicas. Minha especialidade e preferência, porém,
era guerra na selva. Permaneci cerca de seis anos na Divisão de Pára-quedistas, saindo para
o IME, onde passei quatro anos. Em seguida, fui servir em Mato Grosso, tendo como missão
reestruturar a extensa rede-rádio da 9ª Região Militar, inclusive a de fronteira, permanecendo
cerca de três anos em atividades, desde os postos de São Simão, Casalvasco, Fortuna e Porto
Esperidião (próximos às nascentes do Guaporé), Ilha da República, Bela Vista do Norte, até
Mundo Novo, em frente a Guaíra, Paraná. Meu ambiente era, portanto, de muita selva,
pantanal exuberante, rios Paraguai e Paraná, grandes atividades cinegéticas nas horas livres e
enquanto aguardava providências previstas no PERT do projeto. Assim é a atividade do militar.
Quantos engenheiros civis aceitariam tal missão nas condições oferecidas a um Capitão?
Em seguida, realizada a missão em Mato Grosso, em 1968 cheguei a Brasília, para o
GabMinEx/CIE/ADF.
Em novembro de 1969, Marighela foi morto em São Paulo, deixando as referências de uma
“grande área” de preparação da guerrilha rural. Onde seria esta grande área?
Minhas atividades eram na Seção de Planejamento (Mudança do Ministério para Brasília),
estabelecimento das comunicações (microondas e Rede do Alto Comando, ligando Rio de
Janeiro, Brasília e os Comandos das Regiões Militares) e participando, com o Coronel Torres,
da organização da Seção de Operações, para enfrentar a guerrilha rural.
Cumprindo o planejado, saímos em busca dos discípulos de Marighela, mas demos de cara
com os discípulos de um tal de “Barba Roja” Piñeros Losada, chefe da ala para a América
Latina do serviço secreto de Cuba, companheiros de “Daniel”, do famoso e desafortunado
MOLIPO, ou Grupo Primavera, Grupo da Ilha, de 28 terroristas que estavam sendo preparados
em Cuba. Era o desencadeamento do plano de irradiação do comunismo na América Latina,
financiado e orquestrado adivinhem por quem?
Começava a luta na área rural. E para ela já estávamos bem preparados há muito tempo.
O destemido “companheiro de armas” de Dilma Roussef, vulgo “Estela”, no POLOP, ou “Luiza”,
no COLINA, ou “Patrícia”, na VPR, ou “Wanda”, na VAR-P, nome verdadeiro José Dirceu, e de
fachada “Daniel”, ex-ALN /MOLIPO, agora no PT, era um deles, embora naquele tempo tivesse
horror de armas. Para nossa sorte, essa era a espécie de “guerreiros” que pretendiam tomar o
poder no Brasil pelas armas.
Somente tropa especializada saberá tirar proveito das revelações por mim aqui feitas.
“A disciplina militar prestante, não se aprende senhor na fantasia, sonhando, imaginando ou estudando
tratando e pelejando” .
O assunto que relato é forte, fatos reais, tendo em vista principalmente os nossos padrões e costumes
explicar, jamais; apenas me limito aos fatos.
Os aspectos táticos e estratégicos de combate na selva, sendo revelados os procedimentos adotados
são assimiláveis apenas na prática por unidades de forças especiais; são praticamente inatingíveis po
profissional, o que, justamente, faz a diferença entre elas.
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No Araguaia, mais uma vez ficou evidente que a guerra de resistência não tem regras fixas e seus prin
dogmas invariáveis e, portanto, em conseqüência, o mesmo vale para o seu combate.
As implicações psicológicas e éticas de tais fatos são aspectos difíceis de aceitar, analisar, encarar, ao
compreender ou mesmo justificar; estão, por isso, acima dos objetivos deste simples trabalho.
Só presenciei um caso de desequilíbrio psicológico na mata, em combate. Tomei conhecimento, porém
episódios semelhantes, esporádicos. Apenas quero lembrar que eles, os guerrilheiros, não estavam lá
pensem bem nisso.
Reconheço que a simples leitura deste meu pequeno texto não será de fácil compreensão para quem
no assunto “Guerrilha do Araguaia”. Outras leituras terão que ser feitas por quem se interessa pelo ass
muitos outros livros, com novos fatos e testemunhos, haverão de surgir, uma vez que poucos participa
suas colaborações.
Ser Soldado pode englobar todas as qualidades morais e intelectuais, desde o conhecimento dos regu
disciplina, do treinamento normal intramuros do Quartel, enfim, a dinâmica da vida normal na caserna,
sua disciplina hierárquica fundamental e inquebrantável, base da profissão das armas.
Combatente, é aquele que tem treinamento apropriado de combate. Será guerreiro se tiver vocação e
precípua e intensamente para combater, mesmo que a hipótese de combate real seja longínqua; se tiv
de enfrentar o inimigo e derrotá-lo, estará plenamente realizado profissionalmente.
Tudo começa, obrigatoriamente, como “troupier”, o militar de tropa, nas inúmeras atividades, algumas
burocráticas, mas passageiras, e a instrução diária no Quartel. Nossa atividade é silenciosa, porém árd
Na tropa, o militar revela exatamente o que será para o resto do seu tempo na caserna, até, e principa
ao generalato. É só analisar a vida dos grandes líderes. As que tive oportunidade de analisar de perto,
ou em unidades próximas: Marechal Rondon (Patrono da Arma de Comunicações), General Penha Bra
de Aragão, General Orlando Geisel, General Médici, General Arnaldo Bastos de Carvalho Braga, Coro
Torres, Coronel Jarbas Gonçalves Passarinho e, finalmente, todos os meus oito colegas de Turma da
ligados à luta, de fato todos de conduta irrepreensível e excelentes guerreiros.
Mesmo o leitor militar terá que “recalibrar” vários conceitos face ao que aqui será revelado, reconfigura
encarar o combate desde a sua preparação. Embora eu tenha me esforçado para evitar empregar term
impossível evitá-los todos.
Minha equipe tinha um efetivo considerado grande, nunca maior, porém, de 18 elementos, mas na ma
comigo no patrulhamento eram dez apenas que, por tradição, era denominado GC (Grupo de Combate
Tudo recaía nas maiores interrogações: como poderia ser mantida na selva uma grande equipe, sem s
continuado? Para que “inventar” novos armamentos e instrumentos? Na parte de planejamento, enqua
Operação Sucuri, todas, ou quase todas, as minhas sugestões foram aprovadas, principalmente as ref
junto às fábricas do Exército, como a de Itajubá, onde eu tinha vários colegas de turma da Aman em p
não precisava seguir os famosos trâmites legais, bastando oficializar o pedido de apoio para o projeto.
silencioso para a carabina Itajubá 22, a quem atribuo uma larga margem de responsabilidade pelos êx
Nas Diretorias envolvidas diretamente na luta, como, por exemplo, a de Comunicações (DCom), embo
podido evitar algumas incompreensões, a cooperação consciente foi alcançada, com o reconheciment
equipamento do sistema-rádio Racal (inglês), destinado aos pára-quedistas, devido à burocracia da DC
mandar buscar diretamente da fábrica, em Londres, sem passar pelos controles burocráticos (termos d
exame de material, termos de distribuição e inclusão em carga, etc.).
O problema da grande quantidade de baterias necessárias para a manutenção da escuta permanente
problema digno de nota. Tudo deu certo, no entanto. É necessário analisar o problema para compreen
vou fazer aqui.
As ações na selva começaram como operações de informações, simples buscas de informes. Ninguém
terroristas estariam dispostos a tudo, ninguém poderia imaginar a que ponto o fanatismo poderia levá-
Na realidade, em Brasília, antes de 1970, não era sentido o verdadeiro clima de guerra do combate ao
grandes cidades. Brasília, na época, era uma ilha de tranqüilidade.
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Nas primeiras missões na mata, não pude evitar a fuga dos “paulistas” que encontramos por lá. Iria eu
desconhecidos só por estarem supostamente na mata treinando guerrilha? E se fossem simples morad
diante das afirmações de Pedro Albuquerque, fugitivo da área, que ali estavam seus companheiros de
De sã consciência, jamais seria uma boa escolha de procedimento e jamais passou pela minha cabeça
Mas, ao ressurgirem em outro local da mata, eu tinha a obrigação moral de ir até eles, claro. E, assim,
sucedendo num crescente surpreendente e, para mim, inexorável, uma vez que mexi numa verdadeira
maribondos, vespeiro vermelho preparado por conhecidas “putas-velhas” do comunismo internacional.
deixar de continuar naquela